Revista Rua


O Agente Comunitário de Saúde - Uma História Analisada
The Community Health Agent - An Analyzed History

Carlos Côrrea, Claudia Castellanos Pfeiffer, Adriano Peres Lora

social que existe no local onde se situa, os diferentes níveis de administração pública. É desse lugar que o ACS produz sentidos que o vinculam à instituição de saúde.
No presente artigo, partimos da hipótese de que o pertencimento do ACS à instituição pública de saúde não é facilmente percebido, seja pela instituição (entendida no movimento entre a especificidade material das Unidades Básicas de Saúde e todo o percurso de dizeres, de saberes, de poderes que atravessam suas relações com os diferentes níveis gestores até seu nível máximo - o Ministério da Saúde), seja pelo próprio ACS. Este profissional, ao mesmo tempo em que deseja a segurança institucional, reconhece que a sua atuação é diferente de outros profissionais que são plenamente, ou, pelo menos, mais instituídos. É nesse distanciamento ou, melhor dizendo, estranhamento, que se deseja analisar o discurso institucional a respeito do papel dos ACS, compreendendo como a instituição significa o trabalho do ACS. Mais particularmente, trabalharemos aqui com a textualização jurídica que na sua tessitura produz injunções a esse profissional. Se, de um lado, há evidentemente um estranhamento, um incômodo, por outro lado, não é mais possível dizer que o ACS esteja fora da instituição, instituição que configura sentidos para a saúde pública.
No contexto específico da Saúde Coletiva, mais especificamente, na Saúde da Família, é importante compreender as formas de trabalho com a “comunidade” e, consequentemente, entre seus trabalhadores (dentre eles o agente comunitário de saúde). As relações de poder e o local de onde os sujeitos estão produzindo o seu discurso apontam para opacidades derivadas da tensão existente entre a língua e a ideologia. Isso porque, do ponto de vista discursivo, falar é uma prática significativa que articula indissociavelmente sujeito, história e língua. Falar é uma prática política (Orlandi, 1996).
 
2. O AGENTE COMUNITÁRIO NO DISCURSO
 
Na história das ciências e na das Instituições, várias são as linhas e vertentes que abordam a saúde enquanto algo restrito ao biológico. Do ponto de vista de uma abordagem materialista-histórica, deixa-se de lado, nessas linhas e vertentes, a existência de um processo interpretativo, da história e do político e, por isso, o objeto analisado parece claro, sem opacidades. É desse lugar materialista-histórico que se buscará compreender o Agente Comunitário de Saúde.