Revista Rua


O Agente Comunitário de Saúde - Uma História Analisada
The Community Health Agent - An Analyzed History

Carlos Côrrea, Claudia Castellanos Pfeiffer, Adriano Peres Lora

estabelecer, no interior dessa gestão, o vínculo dos serviços com os seus usuários para criar condições de uma efetiva participação e controle social. Aqui estaria justamente o lugar do ACS, porém o que observamos é que esse lugar não é trabalhado nos textos em que ele é designado enquanto ACS. Trabalha-se tão somente a primeira parte: a da articulação. A participação e o controle social são esquecidos:
 
9. Bases para um novo modelo de atenção à saúde
A composição harmônica, integrada e modernizada do SUS visa, fundamentalmente, atingir a dois propósitos essenciais à concretização dos ideais constitucionais e, portanto, do direito à saúde, que são:
a consolidação de vínculos entre diferentes segmentos sociais e o SUS; e
a criação de condições elementares e fundamentais para a eficiência e a eficácia gerenciais, com qualidade.
(...) Além da ampliação do objeto e da mudança no método, o modelo adota novas tecnologias, em que processos de educação [social] e de comunicação social constituem parte essencial em qualquer nível ou ação, na medida em que permitem a compreensão globalizadora a ser perseguida, e fundamentam a negociação necessária à mudança e à associação de interesses conscientes (...) (grifos nossos)
 
Interessante que a presença da comunidade/sociedade traz junto a necessidade da educação e da comunicação com o objetivo da “compreensão globalizadora”. Cabe perguntar: de quem em relação a quê?
Além disso, nossas análises destacam que a “negociação” fundamentada é estabelecida por meio da educação (unidirecional) e da comunicação/divulgação (unidirecional). Todos movimentos que buscam a “associação de interesses conscientes”. Voltamos a perguntar: a quem falta consciência? A educação e a comunicação preencheriam essa falta de consciência, portanto.
O ACS ainda não é nomeado, porém vê-se aí a construção de seu lugar, que será sempre vinculado à possibilidade da mudança no modelo e à necessidade de educação e comunicação. Normas são estabelecidas visando justamente a necessidade de uma comprovação de formação do ACS, fazendo com que essa escolarização formal seja o índice de capacitação para a função que esse profissional deverá ocupar. Junto a isso, vem sempre a responsabilidade de ser o veículo de comunicação: um tradutor. Veremos isso mais adiante.