Revista Rua


A televisão no espaço urbano brasileiro (ou dos processos de constituição de sentidos para a TV no Brasil)
Television in the brazilian urban space (or about the processes of meaning making for TV in Brazil)

Silmara Cristina Dela-Silva

Imagem 5 – O Cruzeiro, 28 out. 1950

A grandiosidade da televisão e de seus equipamentos também é expressa na segunda foto, em que se destaca um microfone muito maior que os dois homens que o apoiam, acompanhada da legenda: “O MICROFONE tem um braço retrátil de 7 m de comprido”. Os sentidos evocados pelo não-verbal são reafirmados pelo conjunto título e linha fina da reportagem, que se destacam junto às fotos que compõem a página [recorte (4)]:
 
(4) A televisão para milhões
Entregue oficialmente ao povo de São Paulo a PRF-3-TV, primeira estação televisora da América Latina – Em qualquer ponto do centro da Paulicéia pode-se assistir aos programas normais de televisão, através de receptores instalados em centenas de casas comerciais. (O Cruzeiro, 28.10.1950. Grifos nossos.)
 
Em relação parafrática com o não-verbal, o título da reportagem apresenta a televisão como disponível para milhões, que na linha fina são especificados como o “povo de São Paulo”. O sentido de universalidade, no entanto, reafirmado pela concepção de “povo”, passa a ser restringido e deslocado na mesma linha fina, que especifica o local de transmissão dos programas de televisão como “qualquer ponto do centro da Paulicéia”. Não se trata de uma disponibilidade a toda a metrópole, como sugere o emprego da forma “milhões” no título, mas de todos os que possam se dirigir ao centro, considerado o ponto principal do espaço urbano. As análises apontam, assim, para a relação da TV e da cidade com os sujeitos telespectadores, como será observado na próxima seção.
 
A TELEVISÃO E OS SUJEITOS TELESPECTADORES: NOVOS SENTIDOS PARA A CIDADE
 
No verbal das reportagens analisadas na seção anterior, o espaço urbano, já significado como o país e a América do Sul, ganha, ainda, novos sentidos na relação com os sujeitos: trata-se da cidade enquanto um conjunto de pessoas que assistiram às transmissões em aparelhos receptores disponibilizados no edifício do grupo de comunicação, um conjunto de pessoas que desloca o sentido de disponibilidade das transmissões de “milhões” para “centenas de pessoas”, como se pode observar nos recortes (5) e (6):