Revista Rua


A televisão no espaço urbano brasileiro (ou dos processos de constituição de sentidos para a TV no Brasil)
Television in the brazilian urban space (or about the processes of meaning making for TV in Brazil)

Silmara Cristina Dela-Silva

A valorização das cidades é acompanhada ainda de dois movimentos que alteram as relações no espaço urbano: o crescimento da industrialização e a migração das zonas rurais para as urbanas, sobretudo para as grandes cidades[7]. Diante de tais condições de produção, são alteradas as relações humanas com o espaço urbano e, consequentemente, as formações imaginárias sobre a cidade. Ao espaço urbano, associam-se as imagens de desenvolvimento científico, trazido pela injunção ao moderno; tais sentidos se constituem em oposição a outros, como a valorização do rural, por exemplo.
As condições de produção do discurso sobre a televisão apresentam os espaços físico e geográfico de instalação dessas primeiras emissoras de TV – as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro – como locais de desenvolvimento, responsáveis por inserir o Brasil dentre os países desenvolvidos. Tal desenvolvimento é significado pela presença da antena de TV no alto da torre do prédio do Banespa, no centro da capital paulista, e no topo do Pão de Açúcar, um dos principais atrativos turísticos da cidade do Rio de Janeiro. A materialização das antenas no prédio considerado símbolo da urbanização e das configurações modernas adquiridas pela metrópole São Paulo e também no Pão de Açúcar faz ressoar o sentido da televisão como parte do cenário urbano, característico do desenvolvimento do país, como indicam as análises apresentadas na próxima seção.
 
A TELEVISÃO NA CIDADE: ALGUMAS ANÁLISES
 
A especificação do espaço da cidade no dizer sobre a TV marca-se no discurso da imprensa brasileira sobre a televisão a partir de meados do ano de 1950, quando efetivamente tem início a instalação dos equipamentos, em São Paulo e no Rio de Janeiro, para a realização das primeiras transmissões televisivas. A relação da TV com o espaço urbano é estabelecida discursivamente na combinação entre as linguagens verbal e não-verbal, cujo funcionamento sustenta-se na tensão entre paráfrase e polissemia, e no silenciamento de certos sentidos, o que abre espaço para que outros sentidos apareçam sob o efeito da evidência.


[7] A década de 1950 é marcada pelo processo de urbanização brasileira, um processo considerado tardio em relação aos países europeus (SANTOS, 1996). O abandono ao campo é crescente em decorrência do investimento no desenvolvimento industrial, e com isso as cidades começam a ganhar população. Neste contexto, o espaço cidade constitui-se, em oposição ao campo, e significa o futuro em contraponto ao passado rural do país. O futuro está nas indústrias, incentivadas no período pós-segunda guerra mundial, e não na produção agrícola, que havia sido privilegiada historicamente. É o cenário urbano em destaque. Um estudo discursivo sobre as relações da presença do campo no discurso urbano é realizado por Payer (2001; 1996).