Revista Rua


A televisão no espaço urbano brasileiro (ou dos processos de constituição de sentidos para a TV no Brasil)
Television in the brazilian urban space (or about the processes of meaning making for TV in Brazil)

Silmara Cristina Dela-Silva

A TELEVISÃO E A CIDADE: AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO
 
Desde o final da década de 1940, a imprensa brasileira de referência[5] fala sobre a televisão no Brasil e, de formas diversas, participa dos processos de constituição de sentidos para a TV. Dentre esses modos de constituir sentidos para a televisão, marcados no fio do discurso da imprensa brasileira daquela época, um deles interessa particularmente neste artigo: aquele que promove a inscrição da TV no espaço urbano brasileiro.
Para a análise deste discurso, no entanto, faz-se necessário considerar as suas condições de produção. A observação das condições de produção para a análise discursiva é proposta por M. Pêcheux desde o início dos trabalhos em Análise de Discurso, em 1969 (PECHÊUX, 1997a). Por condições de produção compreende-se, nesta perspectiva teórica, os sujeitos, a memória discursiva, enquanto interdiscurso, e o contexto (imediato e amplo) relacionados à prática discursiva analisada.
A análise das condições de produção do discurso sobre a televisão mostra que, à época de suas primeiras transmissões, as emissoras encontravam-se nas grandes cidades brasileiras, que se constituíam desde a década de 1930, e cujos sentidos como área urbana permaneciam em movimento, na tensão entre o discurso sobre a cidade e o discurso sobre o campo[6]. Assim, falar sobre a “televisão no Brasil” é falar de uma pequena parte do país com TV e que, apesar disso, é considerada simbólica e imaginariamente como a totalidade do Brasil e dos brasileiros, conforme mostram as análises, apresentadas na próxima seção.
As condições de produção do discurso da imprensa aqui analisado, mais especificamente quanto às situações amplas e imediatas, apontam para a produção discursiva em um momento histórico de constituição das cidades como espaços de desenvolvimento e prosperidade, uma consequência da transformação das metrópoles


[5] O conceito de “imprensa de referência” é atribuído por Imbert (1992) aos órgãos de imprensa com reconhecida importância na formação e conformação da opinião pública, seja em âmbito nacional ou internacional.
[6] Em análise discursiva das imagens urbanas sobre o campo, Payer (1996) aponta a necessidade de tempo de significação dos sujeitos da cidade e do campo no processo de urbanização brasileira. A movimentação dos sentidos é atribuída pela autora, em suas análises sobre os processos de retrospecção e estereotipia no dizer sobre o rural à aceleração no processo de migração urbana, ocorrida no Brasil entre os anos de 1930 e 1950.