Revista Rua


A televisão no espaço urbano brasileiro (ou dos processos de constituição de sentidos para a TV no Brasil)
Television in the brazilian urban space (or about the processes of meaning making for TV in Brazil)

Silmara Cristina Dela-Silva

CONSIDERAÇÕES FINAIS: DA ANTENA À TELEVISÃO DIGITAL
 
Neste percurso em busca de compreender o processo de constituição de sentidos para a televisão no Brasil, a partir da presença da antena de transmissão no espaço urbano, pode-se observar a constituição de sentidos não somente para a própria antena, como também para a televisão, os telespectadores e a própria cidade. Quanto à antena, ela é apresentada pela revista O Cruzeiro, primeira publicação impressa a falar sobre a televisão no Brasil (em consequência de suas condições de produção: uma publicação do grupo responsável pela instalação das primeiras emissoras de TV no país), como a materialização da TV no espaço urbano das capitais São Paulo e Rio de Janeiro. É pela existência material da antena em pontos importantes das duas capitais que se reitera a presença da televisão no país e na América do Sul, ainda que, de fato, as primeiras transmissões regulares ocorressem somente meses após esse processo de instalação das antenas, e o acesso a tais transmissões fosse absolutamente restrito em um primeiro momento.
Para a televisão, destacam-se os sentidos de uma nova tecnologia, representativa da modernidade do país, atrelados ao sentido de disponibilidade: as antenas fazem parte do cenário urbano e produzem o efeito de sentido da televisão imaginariamente presente e disponível a todos. Esta presença e a disponibilidade da televisão direcionam também os sentidos para os sujeitos a quem essa nova tecnologia encontrava-se de fato acessível: os sujeitos telespectadores, mas somente àqueles que também eram consumidores dos aparelhos de TV e de sua programação, e não todos os sujeitos da cidade. É nesse sentido que se instaura a relação da mídia com o consumo, na figura do sujeito telespectador-consumidor, sujeito que se constitui na relação com a mídia e o mercado (PAYER, 2005)[1].
As análises e considerações apresentadas permitem ainda reflexões acerca dos sentidos que se constituem para a cidade enquanto espaço urbano, nesse dizer da imprensa sobre a televisão. A cidade tem o sentido de país, da totalidade do Brasil; a cidade também é significada como a coletividade dos sujeitos urbanos que puderam passar pelos locais públicos de transmissões de televisão para fins de testes, os sujeitos urbanos que ocupam os espaços daquelas grandes cidades e que acompanharam a


[1] Essas reflexões acerca do sujeito telespectador-consumidor, decorrentes da leitura de Payer (2005), têm início em Dela-Silva (2008) e permanecem em análise nas pesquisas que desenvolvo atualmente, com foco no dizer sobre o sujeito, no discurso midiático sobre a própria mídia.