Revista Rua


A televisão no espaço urbano brasileiro (ou dos processos de constituição de sentidos para a TV no Brasil)
Television in the brazilian urban space (or about the processes of meaning making for TV in Brazil)

Silmara Cristina Dela-Silva

em espaços modernos. A formação discursiva da modernidade e da modernização dos espaços urbanos se constitui nas metrópoles brasileiras a partir do início do século XX, em decorrência de um dizer sobre a modernidade vigente na Europa, durante a segunda metade do século XIX.
O movimento de modernização das cidades européias tem como marco inicial a reforma urbana, realizada em Paris por Haussmann, entre 1853 e 1869. No contexto europeu, a reforma, que compreende medidas de higienização, embelezamento e racionalização do espaço urbano, promove a transição da Paris com características medievais àquela tomada como representativa do conceito de cidade moderna (BERMAN, 1990). No contexto citadino, o discurso da necessidade de modernização do espaço urbano se estende a todas as grandes metrópoles. Nos termos de Berman (1990, p. 147): “Por volta de 1880, os padrões de Haussmann foram universalmente aclamados como verdadeiro modelo do urbanismo moderno. Como tal, logo passou a ser reproduzido em cidades de crescimento emergente”.
No Brasil, uma reforma urbana é realizada no Rio de Janeiro, entre os anos de 1903 e 1906, com a adoção de medidas sanitárias e a construção de avenidas, de forma a atender ao desejo de modernização da cidade (FOLLIS, 2004). Em São Paulo, onde se concentravam os recursos da expansão cafeeira, os investimentos na construção de ruas e prédios, e em processos de higienização do espaço urbano são constantes desde 1880.
O discurso da necessidade de modernização traz também a proposta de verticalização dos imóveis, de forma a ocupar espaços já restritos nas regiões centrais das grandes cidades. Segundo os registros da administração municipal (SÃO PAULO, s/d), o processo de verticalização em São Paulo tem início por volta de 1910, e manifesta-se de forma mais intensa a partir de 1920, com o objetivo de otimizar os terrenos comerciais disponíveis no centro da cidade, uma área supervalorizada. Duas décadas depois, a tendência à construção de edifícios se estende aos imóveis residenciais e passa a ocupar áreas ao redor da região central.
Um dos marcos desse processo de verticalização das cidades, em São Paulo, é a construção do edifício do Banco do Estado de São Paulo (Banespa). Inaugurado em 27 de junho de 1947, três anos antes do início das transmissões televisivas em São Paulo, o prédio do Banespa materializa os sentidos da urbanização e da modernidade paulistanas. O edifício, cuja construção teve início em 1939, ocupa um dos pontos altos da região central paulistana, e a influência de outras metrópoles em sua concepção manifesta-se já em sua estrutura, inspirada no Empire State Building, em Nova York, construído em 1931.