Revista Rua


A televisão no espaço urbano brasileiro (ou dos processos de constituição de sentidos para a TV no Brasil)
Television in the brazilian urban space (or about the processes of meaning making for TV in Brazil)

Silmara Cristina Dela-Silva

Essa amostra dos títulos de notícias sobre a televisão digital no Brasil, publicados em diversos sites de notícias e utilizados como referência para a redação do verbete “televisão digital no Brasil”, na enciclopédia livre Wikipédia, mostra a relação que ainda permanece entre a televisão, agora digital, e a cidade enquanto espaço urbano. São marcas dessa relação nos títulos os nomes de cidades, de Estados e menção a diversas regiões do país, bem como a expressão “minha cidade”, que traz a indagação do sujeito telespectador sobre a disponibilidade da TV digital em seu local de residência.
Também nesse caso, a cidade é o espaço em que se encontra disponível a televisão digital, ainda que tais transmissões dependam da aquisição de aparelhos próprios à captação dos sinais transmitidos por essa nova modalidade, como se observa no recorte (11), extraído de uma reportagem especial sobre o lançamento da televisão digital no Brasil, posto em circulação em dezembro de 2007:
 
(11) A transmissão digital começa hoje na Grande São Paulo, mas o comércio não está bem preparado para atender aos consumidores que querem contar com a tecnologia já na primeira exibição. (...)
Os conversores – que permitem que as TVs já disponíveis no mercado recebam o sinal digital – começaram a ser vendidos apenas poucos dias antes do início da transmissão. (Folha de S. Paulo, 02 dez. 2007. Grifos nossos.)
 
No fio do discurso, a nomeação dos sujeitos telespectadores como “consumidores” e a existência de “conversores” à venda no mercado brasileiro marcam a necessidade da relação de consumo para o acesso à televisão digital. Assim, re-significa-se também o sujeito telespectador consumidor: não basta estar na cidade para ter acesso; faz-se necessário comprar alguns aparelhos específicos para assistir ao que já está disponível. Nesta contradição, entre estar disponível na cidade e, simultaneamente, não ser acessível ao sujeito telespectador ou sequer visível na cena urbana, parece que se inscrevem os sentidos sobre a televisão digital no país, ancorado na memória do dizer sobre a própria televisão no Brasil.