Revista Rua


Diante da Lei.. aflição e aprisionamento ao processo
Before the Law... affliction and imprisonment to the process

Carme Regina Schons e Lucas Frederico Andrade de Paula

Dentre as diversas possibilidades de análise, o foco será no discurso-transverso, que apresenta diferentes formulações na ruptura do cruzamento de outros discursos, a partir do interdiscurso. De acordo com Pêcheux (1988), geralmente, o discurso-transverso aparece de forma não explícita. Espécie de presença-ausente, que se constitui pelo atravessamento do interdiscurso que o caracteriza, heterogeneamente, como dispositivo organizador de pré-construídos.
Com tal efeito de memória, é possível abordar tanto o conto literário quanto o recorte noticioso, se utilizarmos o funcionamento discursivo para a análise. Os dois processos discursivos da pesquisa revelam similaridades importantes (entre gêneros) que podem ser expostas metodologicamente.
Com o propósito de cumprirmos o objetivo e atendermos à questão do gesto de leitura, a partir da Análise de Discurso, estruturamos este artigo com uma seção dedicada às especificidades teóricas, e com outra que corresponde à análise do corpus. Por fim, as considerações finais destacam as conclusões.
 
Considerações sobre a teoria
Ao adentrarmos na questão da materialidade linguística, juntamente com o aporte teórico baseado na Análise de Discurso, mais precisamente de Pêcheux (1988), buscamos algumas considerações teórico/metodológicas que irão sustentar as abordagens dos recortes em análise.
A reflexão oriunda do gênero literário ficcional escolhido, paralela ao fato noticioso, mostra-nos diversas possibilidades de leitura que estão inscritas, direta ou indiretamente, na discursividade de ambos os recortes. Em vista disso, entendemos que as formações discursivas devem ser identificadas em suas marcas. O discurso que conduz a materialidade linguística ao efeito de sentido funciona no conjunto de ideários e saberes que estão atravessados na linguagem e na inscrição do sujeito na língua. 
Segundo Pêcheux (1988), o sujeito e a história estão inseridos na mesma engrenagem textual, materialidade essa que discorre no âmbito linguístico e desvela a questão semântica que é atravessada pela ideologia. O mesmo autor observa que:
(...) o sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc., não existe “em si mesmo” (isto é, em sua relação transparente com a literalidade do significante), mas, ao contrário, é determinado pelas posições ideológicas que estão em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas (isto é, reproduzidas). (PÊCHEUX, 1988, p.146)