Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

Segundo Orlandi, “a ideologia interpela o indivíduo em sujeito e este submete-se à língua significando e significando-se pelo simbólico na história” (1999, p. 10). Assim, inserido em uma Formação Discursiva – definida pela autora como espaço onde o sentido é determinado e onde se dá a identificação do sujeito -, é impelido pela determinação, pela “injunção a dar sentido”, que, por fim, refletem a sua interpelação em “um gesto, um movimento sócio-historicamente situado” (p. 13). Por esses motivos que, ainda que um discurso se julgue como neutro, cabalmente produzirá sentidos de acordo com uma perspectiva ideológica. Isso traz à mente o constante debate sobre os limites de direito à informação nos meios de imprensa, que ganhou nova perspectiva com o caso Wikileaks. Capa de edição da revista Veja de dezembro de 2010, Julian Assange, fundador do Wikileaks, tem sua imagem caracterizada à semelhança de um homem-bomba. No entanto, os “explosivos” que envolvem seu corpo são uma retratação do próprio ícone do Wikileaks – uma ampulheta com um globo terrestre em cada extremidade, sendo o de cima escuro e o de baixo claro – além de haver vários pen drives dispostos na parte de cima do “cinto bomba”. Por fim, o tradicional detonador do dispositivo, na mão de Assange (o qual se encontra em uma postura que sugere ataque), é substituído por um mouse. A frase impressa na capa chama a atenção do sujeito leitor para o que foi denominado ‘Guerras Digitais’.
O site, desde sua criação, tem disponibilizado documentos ou arquivos que permitem o acesso a informações sigilosas que, em tese, mantém o anonimato daqueles que as disponibilizaram. Tal fator, cabe ressaltar, acaba por trazer à tona diversos documentos que, por motivos variados, geram polêmicas e influem, inclusive, em questões diplomáticas. Tem-se, por exemplo, o caso de diversos telegramas de diplomacia que, por versarem em tom de informalidade e “intimidade”, expuseram diversos comentários “sensíveis” para a ‘imagem’ de países e governantes. Tais fatos parecem ser decorrentes da atual cibercultura, a qual amplia não só a possibilidade de construção, mas também de disponibilização (e por que não de vazamento) de arquivos, formando conjuntos que, ao mesmo tempo em que são amplamente localizáveis, são também facilmente elimináveis e possuem alto grau de propagação. Foi em meio a esse cenário que o Wikileaks ganhou lugar como um espaço de publicação de informações confidenciais, gerando embate entre confidencialidade e direito de informação, o qual acaba por configurar um lugar no qual o sujeito assume uma liberdade, “o sonho democrático” (MAGALHÃES; MARIANI, 2010).