Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

tentativa, por parte do (inter)locutor, de apoderar-se de determinada posição.  Ressalta-se, no entanto, que toda a seleção de vazamentos da Wikileaks também passa por um gesto de leitura para a formação dos “arquivos confidenciais”. Isso porque não se trata de publicar qualquer arquivo privado, sigiloso ou confidencial, mas um arquivo confidencial que coloque em xeque o aparato Estado e suas relações. Há, então, um gesto de interpretação também baseado no Estado, mas ao revés: os limites impostos são confrontados. Tome-se novamente a definição dos arquivos dada pela Wikileaks:
 
(...) para trazer notícias e informações importantes para o público. (...)Nós publicamos material de conteúdo ético, político e histórico, mantendo o anonimato da identidade das fontes, proporcionando assim uma forma universal para a revelação de injustiças reprimidas e censuradas.[8].
 
            Um ponto a ser destacado é o uso das palavras ‘notícias’, ‘informação’ ematerial’, que remetem ao discurso da própria mídia, já legitimado enquanto meio de informação; no entanto, é estabelecido um paralelo, ao final, entre essas palavras e ‘injustiças reprimidas e censuradas’. Nesse ponto, a legitimidade informativa é transportada a um cenário de revelação de injustiças. Enunciado esse que estabelece um discurso que, além de informar, leva a um cenário de informação oculta e, como afirma Orlandi “há em todo sujeito social a vontade/ necessidade de saber” (2001, p. 143). Assim, estabelece-se um jogo que se configura nessa relação de produção de efeito de informação capaz de levar aquilo que é ‘injusto’, desconhecido, para o domínio de um sujeito estabelecido como não legitimado para obter tal informação.
Por isso que o uso do termo ‘censuradas’, especificamente, também salienta um discurso de “justiça”: a Wikileaks se denomina como aquela que vai dar ao sujeito leitor, enquanto ser social, a informação que lhe deveria ser acessível, mas que lhe foi barrada. Claro é que se houvesse sido empregado outro termo como, por exemplo, ‘confidencial’ ou mesmo ‘sigiloso’, haveria também a marca de “segredo”. No entanto, ‘censura’ constrói um sentido de negação de direitos, de barramento do saber que é devido. Coloca-se, assim, que o sujeito seria legitimado para obter tais informações se não houvesse os limites do Estado.

[8] No original “(...) to bringing important news and information to the public. (...) We publish material of ethical, political and historical significance while keeping the identity of our sources anonymous, thus providing a universal way for the revealing of suppressed and censored injustices