Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

Magalhães e Mariani (op.cit), “meus           significantes [...] estão constituídos e afetados pelo Outro: para emergir como sujeito falamos afetados pelo Outro (nesse sentido, a alteridade está em mim). O processo de subjetivação está atravessado pela materialidade significante do outro” (p. 5).
É importante ressaltar que, para estudar os gestos de interpretação sobre os arquivos, é necessário, primeiramente, observar o sujeito inserido nas condições gerais de produção. Como afirma Pecheux, “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para outro” (1990, p. 53). Isso porque “as condições de produção incluem sujeito e situação” (ORLANDI, 2006). Estas condições, segundo a autora, podem ser pensadas tanto em sentido stricto (o aqui e agora do dizer) quanto em sentido lato (contexto ideológico e sócio-histórico). Esses dois contextos sempre funcionariam em conjunto. Neles, configura-se um sujeito que é projetado no discurso (ORLANDI, op.cit). Tal projeção, cabe ressaltar, dá-se em função das “formações imaginárias” presentes no discurso. Assim, estabelece-se um jogo de imagens, que inclui i) a que o sujeito faz de si mesmo; ii) a que o sujeito faz de seu interlocutor; iii) a que o sujeito faz de seu objeto de discurso. Igualmente, estariam presentes a imagem que o interlocutor do sujeito faz de si mesmo, daquele que lhe fala e daquilo que se fala, ou seja, do objeto do discurso (ORLANDI, op.cit).
É por esse motivo que o sentido de uma palavra não existe em si mesmo, mas é dado pelo contexto no qual é produzida. Por isso, a questão do arquivo, enquanto objeto do discurso, tem relevância no presente trabalho – dado que seu conceito recebe diferentes significações conforme o discurso em que é produzido. Pecheux afirma que a relação entre língua (como sistema passível de jogo) e a discursividade (efeitos linguísticos materiais na história) seria o “nó central de um trabalho de leitura de arquivo” (1997, p. 63). Falando sobre as culturas científicas e literárias e sobre suas pretensões sobre o arquivo, o autor afirma que o fato da língua permanecia subestimado, ou seja, “materialidade da língua desaparece” (p. 63). Por esse motivo, defende que se deve consagrar a materialidade da língua na discursividade do arquivo. Isso porque:
seria do maior interesse reconstruir a história desse sistema diferencial dos gestos de leitura subjacentes, na construção do arquivo, no acesso a documentos e a maneira de aprendê-los, nas práticas silenciosas da “leitura espontânea” reconstituíveis a partir de seus efeitos na escritura: consistiria em marcar e reconhecer as evidências práticas que organizam estas leituras, mergulhando a “leitura literal” (enquanto apreensão do documento) numa “leitura interpretativa – que já é uma escritura. Assim começaria a se constituir um  espaço polêmico das maneiras de ler, uma descrição do “trabalho do arquivo enquanto relação do arquivo com ele mesmo, em uma série de conjunturas, trabalho da memória histórica em perpétuo confronto consigo mesma (p. 57)