Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

‘divulgável’: são sujeitos que não interpretariam a notícia, mas somente a reproduzem. O objeto é sempre algo do real, fatos que se inscrevem na história e que seriam somente descritos. Assim, os leitores – como interlocutores de meio informativo legitimado, firmado e em tese não silenciado politicamente –, receberiam todas as informações que necessitariam sobre o mundo. Mas a Wikileaks coloca em xeque justamente essa questão de necessidade de informação. O seu discurso não seria legítimo, dado que toca em informações íntimas, confidenciais, que deveriam ser circunscritas a um universo restrito justamente pelo seu caráter sigiloso. Disponibilizam-se arquivos que seriam expostos a sujeitos desautorizados, que não teriam status ou posicionamento social para interpretá-los. Novamente, o arquivo que ameaça. Como afirma Orlandi, “proíbem-se certas palavras para se proibirem certos sentidos [...] Como, no discurso, o sujeito e o sentido se constituem ao mesmo tempo, ao se proceder desse modo se proíbe ao sujeito ocupar certos ‘lugares’, ou melhor, proíbem-se certas ‘posições’ do sujeito” (1993, p. 78).
 A partir dessa posição, os sujeitos que contribuem para o site não possuem o estatuto de jornalistas; no entanto, levam informações (legitimidade até então dada somente à imprensa). Assange, em resposta à pergunta sobre se teria divulgado mais documentos que a mídia, contesta:
 
É, isso pode ser verdade? É uma preocupação -- não é? -- Que o resto da mídia do mundo esteja fazendo um trabalho tão ruim que um grupinho de ativistas consegue publicar mais informações desse tipo do que o resto da imprensa mundial junta.
 
Assange assume um discurso crítico à mídia, colocando em pauta uma dicotomia que pode ser tida entre ativistas Wikileaks versus imprensa. Observa-se que, assim, ele caracteriza a imprensa como sendo não informativa e atribui ao seu trabalho uma qualificação negativa ao mesmo tempo em que afirma assumir esse trabalho por falta de competência daqueles que deveriam fazê-lo. Assange parece ter a ilusão de levar aos sujeitos liberdade de expressão (MAGALHÃES; MARIANI, op.cit). Assume-se como representante desse grupo que fala não a um público desautorizado de interpretar as informações sigilosas, mas antes ao público da imprensa, legitimados para receber informações, fatos, de descrição do real. Essa relação, entretanto, não é observada na definição dada pelo próprio site da Wikileaks na seção ‘sobre’: