Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

Ademais, Orlandi afirma que:
 
No arquivo, o dizer é documento, atestação de sentidos, efeitos de relações de forças (...) o arquivo repousa sobre o realizado, menos sobre o que pode e muito mais sobre o que deve ser dito. No arquivo há assim um efeito de fechamento. Se o interdiscurso se estrutura pelo esquecimento, o arquivo é o que não se esquece (ou o que não se deve esquecer). Se no interdiscurso fala uma voz sem nome, no arquivo fala a voz comum, a de todos (embora dividida). (2003, p.14)
 
            Como o arquivo repousa sobre o realizado, tem-se que os arquivos, enquanto documentos sigilosos, vão além do que deve ser dito. Nesse caso, há documentos, forças e relações de poder que não deveriam, em tese, ser voz comum, e menos ainda interpretação para todos. Tem-se, certamente, um fechamento. No entanto, trata-se de um fechamento dual: de realizado (enquanto acabado) e de circunscrição de interlocutores: essa última se configura, no caso Wikileaks, em uma ‘abertura’ que busca evidenciar o primeiro fechamento, de modo a elucidar aquilo que não se deve esquecer para além das fronteiras de sujeitos legitimados.
O silenciamento local, de interdição do dizer (ORLANDI, 1993), estaria sendo colocado em evidência, quebrando o ritual ideológico e estabelecendo posições discursivas e interpretativas outras para tais informações - posições estas antes barradas. A Wikipédia, por sua vez, apresenta as seguintes definições para arquivo:
 
WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis.
 
A qualificação técnica dos arquivos (documentos, fotos) recebe a adjetivação de informações confidenciais’. O discurso que se confidencia é aquele feito por um sujeito, que, a partir de sua posição, busca circunscrever seu dizer a uma esfera social limitada. Observe-se que as informações são caracterizadas como ‘vazadas’. Ou seja, o jogo de sentidos, antes circunscrito a determinado grupo, é levado a público. Um discurso que, produzido no segredo, é divulgado, levando a interpretações diversas. Outro ponto a ser destacado é o uso do adjetivo abstrato ‘sensíveis’para o substantivo ‘assuntos’. A relação que se estabelece é a de que o jogo de interpretação seria passível de ser ferido, ser infringido. O que seria uma informação/assunto sensível? Esse discurso da Wikipédia, vale ressaltar, é encontrado em várias outras fontes midiáticas. Essa relação de sensibilidade leva a notar, novamente, o limite entre o discurso do ilegal e do aético: qual o sujeito que disponibiliza essa informação? Ele tem legitimidade para tal? Por que a faz circular? O que circula?