Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

da revista, cabe ressaltar, visa a um público que, em tese, busca informação. No entanto, a própria seleção dos fatos e do que vai ser dito sobre eles é relativizada, é orientada por uma posição. Nesse caso, pode-se notar que o discurso de “ativismo” é relativizado a uma semântica bélica, uma vez que, na página 160, ao informar sobre “as vítimas dos hacktivistas”, a seção se inicia com “o vandalismo começou...”. Elucida-se, então, que, novamente, há um discurso de terror ou de guerra, dado que há vítimas (as operadoras de pagamento via Internet que recebiam doações para a Wikileaks). O uso do termo “vandalismo” também remete a uma formação discursiva que classifica a ação como ameaçadora. Cabe ressaltar que a reportagem menciona que não haveria ligações entre hackers e ativistas da seguinte maneira:
 
Espertíssimo, Julian Assange, de dentro da prisão londrina, mandou sua advogada [...] dizer que seu site não tinha nenhuma relação com Anonymous (nome atribuído ao grupo de hacktivistas). “O wikileaks não é uma organização de hackers. É uma editora e uma empresa jornalística”, disse a advogada.
 
O uso do adjetivo “espertíssimo” já expõe uma marca de ironia que se materializa na escrita. Essa parte da notícia não vem em manchetes ou títulos, mas em um dos muitos parágrafos da matéria. Assim, nota-se que parece haver desconexão entre o que foi inscrito como manchete e o informado na matéria. Como afirma Guimarães, “ao reescriturar, ao fazer interpretar algo como diferente de si, este procedimento atribui (predica) algo ao reescriturado” (2002). Tal diferença também pode ser observada no uso do verbo “mandou”: coloca-se Assange como sujeito que detém o poder, que é responsável, inclusive, pelo discurso de sua advogada.
Isso porque uma relação entre mídia versus Wikileaks pode ser observada no discurso da revista. A advogada de Assange afirmou que o site seria “uma editora e uma empresa jornalística”. Nota-se que a heterogeneidade marcada (AUTHIER-REVUZ, 1990)dada pela revista Veja se inicia com o adjetivo “espertíssimo”, qualificando a ação de Assange. O discurso da advogada, no entanto, apesar de ser, em tese, um discurso legitimado, dado que é um sujeito que fala “de acordo com a lei”, “em termos legais”, acaba por ser infirmado, isto é, quebra-se o que ele teria de legítimo devido ao fato de estar inscrito em uma ordem de um sujeito classificado como espertíssimo.
Interessante notar, ainda no excerto supracitado, que a Wikileaks, por sua vez, se reconhece como uma empresa jornalística, como uma editora. No entanto, é importante ressaltar que uma empresa jornalística sempre tem o seu discurso pautado no que seria