Revista Rua

Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

Isso porque a seleção do arquivo, como foi dito anteriormente, é feita com base nas informações que são passíveis de “abalar” estruturas, o status quo, como menciona a Veja (p. 160). Não se publicam arquivos confidenciais domésticos de um sujeito da sociedade sem relação de poder com o Estado, por exemplo. Assim, vê-se, nesse não-dito, que há uma ilusão de independência, de não cessão aos “ditames” ou regras que, na verdade, acaba passando pelo crivo do que é o Estado e de seu poder.
 
5. Ativismo informativo
 
Como mencionado ao início deste trabalho, a Revista Veja apresentou uma imagem caricaturada de Assange como um homem-bomba. Isso porque, como era de se esperar, o vazamento de documentos confidenciais abre margem para uma gama de interpretações e, diversas vezes, coloca em evidência o que deveria estar oculto aos “administrados” pelo Estado. Insurgem, então, problemas com relação a evidenciar o que deveria ser silenciado, o que gera preocupações para os produtores desses documentos. Tais preocupações, muitas vezes, tornam-se mesmo comparadas a ‘terror’, levando a um discurso que toca no democrático versus terrorismo.
Como mencionado, a ilusão de liberdade, o sonho democrático ao qual aspira o indivíduo é sempre definido em consonância com os limites do aparato ideológico, das normas e leis que regem o Estado e a sociedade. A citação de capa da revista define Assange como “o homem dos 250.000 segredos de estado”, e, na descrição da imagem, há a frase:
Homem- bomba” - Numa prévia das guerras digitais do século XXI, os hacktivistas reagem à prisão de Assange, lançando uma onda planetária de ataques.
 
Observa-se o uso do termo “hacktivistas”, uma cunhagem de hackers com ativistas. O discurso do ativismo faz pensar em agir por uma causa, como fome, paz mundial, sustentabilidade ou mesmo uma causa política. No entanto, nota-se que há o uso de palavras do campo bélico - “ataque”, “guerras”, “homem-bomba”. Isso porque o fato de serem hackers traz à memória todo o discurso de invasores digitais, daqueles que burlam sistemas protegidos ou mesmo pegam informações confidenciais, o que, cabalmente, faz estabelecer uma associação entre Wikileaks e hacktivistas. O discurso