Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

Interessante pontuar também que a presença de “wiki” no começo do nome de ambas as organizações (Wikipédia e Wikileaks) traz em si uma identificação, resultante de uma significação imaginária, explicitada pela presença de um mesmo significante. A ressalva feita pela Wikipédia é no sentido de mostrar que o simbólico é diferente do efeito de sentido que poderia ser estabelecido por leitores “desavisados”. No entanto, esse “desaviso” marca somente a remissão à memória contextual desses sites: ambos falam a partir de um espaço digital. O mesmo significante gera o efeito de sentido que é dado pela memória digital dos leitores internautas. O simbólico “wiki”, então, é marcado pela Wikipédia de modo a estabelecer um contraste com esse imaginário, para negá-lo e, consequentemente, negar a identificação e a filiação.
Ressalta-se que a coleta de dados para investigação sobre o discurso do próprio site Wikileaks a respeito de sua configuração levou ao encontro de diversos sites espelhos. Isso porque, devido ao vazamento de telegramas diplomáticos anteriormente mencionados, o domínio www.wikileaks.org havia sido retirado do ar. No entanto, vários foram os sites que reproduziram, em domínios diferentes, o mesmo conteúdo do site original. Por isso são denominados espelhos: o conteúdo se mantém, mas o domínio é outro. Em um dos espelhos (http://wikileaks.ch/[5]) encontrou-se a definição dos organizadores sobre a Wikileaks:
 
WikiLeaks é uma organização de mídia sem fins lucrativos dedicada a trazer notícias e informações importantes para o público. Nós fornecemos uma maneira inovadora, segura e anônima para vazamento de informações de fontes independentes ao redor do mundo a nossos jornalistas. Nós publicamos material de conteúdo ético, político e histórico, mantendo o anonimato da identidade das fontes, proporcionando assim uma forma universal para a revelação de injustiças reprimidas e censuradas.[6]
 
            É possível observar que, ao início, Wikileaks é tratada como terceira pessoa do discurso: não há um ‘eu’ individual ou coletivo que se posicione a respeito do conceito. Tal postura se modifica na segunda oração, na qual um ‘nós’ assume o discurso, o que também pode ser observado no uso do possessivo ‘nossos’. Assim estabelece-se um discurso de uma coletividade, o que legitimaria ainda mais a organização.


[5] Acesso em 19 de fevereiro de 2011.
[6] No original: “WikiLeaks is a non-profit media organization dedicated to bringing important news and information to the public. We provide an innovative, secure and anonymous way for independent sources around the world to leak information to our journalists. We publish material of ethical, political and historical significance while keeping the identity of our sources anonymous, thus providing a universal way for the revealing of suppressed and censored injustices.”