Revista Rua


A máquina corretiva, ou como restituir aos moradores de rua à estrutura: dois modelos de transformação
The corrective machine, or how to restore the homeless people to the structure: two models of transformation

Carlos José Suárez G.

representações segundo Erwing Goffman(1975) começa presumindo o modo como as pessoas se comportam perante situações novas e desconhecidas, e como elas obtêm informação sobre o novo indivíduo, que irrompe numa situação dada, mediante um “veículo de indícios”, o que permite desenvolver uma escolha a partir de um leque de comportamentos. As informações acerca de como se comportar podem ser fornecidas pela conduta do novo indivíduo e pela sua aparência externa, embora, para Goffman, tais indícios estejam sempre ligados a experiências anteriores dos sujeitos, dentro do que o autor chama de “estereótipos não comprovados”. Deste modo, pela aparência pode-se predizer que existe uma correspondência entre certos indivíduos e determinadas formas de se comportar diante deles. A mesma correspondência se estende a certos cenários privilegiados, neste caso, a rua. Logo depois da chegada do novo indivíduo à cena, segue-se o que Goffman chama de “linha de comportamento”, que se desenvolve depois da escolha. Uma vez iniciada, a interação se desenrola entre os participantes, mas sem possibilidade de alteração. Eis o caráter moral das projeções: as características sociais iniciais (ou indiciárias) de um indivíduo dão aos participantes o direito de providenciar um tratamento adequado ao seu valor social; poder-se-ia dizer que existe uma institucionalização de expectativas abstratas estereotipadas, noutras palavras, uma “representação coletiva”.
Para Goffman a rua é o cenário mais adequado para olhar este tipo de “rituais cotidianos” graças à co-presença coordenada de diferentes atores; nesta arena se farão mais visíveis as demonstrações das intenções e representações dos outros. Tomemos como exemplo o morador de rua, o catador de lixo, o personagem epítome deste “cenário privilegiado”, e veremos como estas representações vão além de uma “interação simples” ou dialógica, para se transformar numa interação que pretende a mudança total deste indivíduo depreciado, sem “nenhuma capacidade de resposta” ou de resistência que não seja o fato mesmo de existir. Sem dúvida, em uma primeira análise, estes “excluídos” vão se tornar “sujeitos passivos de intervenção”; mas um olhar atento permitirá ver outras dinâmicas acontecendo.
Para fazer o desenho da representação coletiva destes moradores de rua, vou me basear em uma pesquisa de campo que fiz para o Ministério da Proteção Social (antigamente Ministério da Saúde), no ano 2007, no qual efetuei uma série de entrevistas com funcionários estaduais e de ONGs que trabalhavam diretamente com