Revista Rua


A máquina corretiva, ou como restituir aos moradores de rua à estrutura: dois modelos de transformação
The corrective machine, or how to restore the homeless people to the structure: two models of transformation

Carlos José Suárez G.

estas populações[2]. A “Fundación Renacer” tem como público específico crianças e adolescentes carentes expostos à prostituição na rua, e que vivem situações de violência e exclusão. Para os funcionários desta instituição “elas são pessoas excluídas socialmente, que não existem para o Estado, são desamparados pela sociedade”[3]. Os funcionários da Associação Cristã de Jovens (ACJ-YMCA) que atuam junto a adolescentes moradores de rua dizem que eles são “seres humanos que fazem da rua sua vida, têm que viver constantemente entre o consumo [de drogas] e a delinqüência”[4]. As freiras da organização religiosa de Medalha Milagrosa de São Vicente de Paul afirmam que eles “são aqueles em estado de exclusão, à margem da sociedade, sem acessos. O morador da rua é o ‘desplazado’[5], o delinqüente, o viciado em álcool ou em entorpecentes, o homossexual. Todos eles têm chegado aqui [à Medalha Milagrosa], ainda os freqüentadores de grupos satânicos, procurando ajuda. Os moradores de rua são pessoas “imediatistas” [que só pensam no presente], mas muito transparentes na amizade”[6]. Finalmente, para os membros do corpo médico do “Hospital Centro Oriente” que atendem estas populações no centro histórico da cidade, o problema dos moradores de rua é extensivo e abarca todo o meio ambiente e o habitat onde eles permanecem: “a percepção geral é que os moradores de rua geram insegurança, furtam os cabos de energia e as tampas de esgoto; criam depressão nas crianças que moram perto destes setores marginais por que lhes dão medo sair a brincar, além disso, há insalubridade tanto pelo lixo como pelas fezes”[7]. Finalmente, as palavras de um funcionário do sistema de proteção social podem resumir a representação oficial e generalizada das equipes que atendem ao morador de rua na Colômbia:


[2] Alguns autores e instituições encarregadas de fazer política pública anotam simplesmente que estas populações são consideradas “em risco” ou “em condição de vulnerabilidade”; o presente ensaio pretende ir além, questionando esta afirmação para levar em consideração as causas culturais deste risco.
[3]Son personas excluidas socialmente, quienes no existen para el Estado, son desamparados por la sociedad”.
[4]seres humanos que hacen de la calle su ida, tienen que vivir constantemente entre el consumo y la delincuencia”.
[5] O termo “desplazado” é usado na Colômbia para se referir àquelas pessoas, especialmente camponeses, que fogem de suas terras e propriedades para se refugiar nas cidades. Estes eventos de “desplazamiento” ocorrem frequentemente depois de massacres (feitas por “paramilitares”), de ataques “guerrilleros” aos povoados ou dos mais modernos “falsos positivos”, novo eufemismo governamental para referir-se às chacinas levadas a cabo pelo Exército Nacional. O fenômeno do “desplazamiento forzado” na Colômbia é tema de grande debate na política nacional e internacional, assim como da agenda do governo. Por este motivo tem-se produzido uma considerável quantidade de documentos e de propostas que obviamente não vou considerar aqui.
[6] “Es quien está en estado de exclusión, al margen de la sociedad, sin accesos. Es el desplazado, el delincuente, el vicioso de alcohol o de drogas, el homosexual. Todos ellos han llegado aquí, aun los de cultos satánicos, buscando ayuda. Para ella los habitantes de la calle son personas inmediatistas, pero muy transparentes en la amistad”.
[7]La percepción general es que los habitantes de la calle genera inseguridad; se roban el cableado y las tapas de la alcantarillas; crean depresión en los niños que viven cerca de estos sectores marginales por que les da miedo salir a jugar; además insalubridad tanto por basuras como por sus heces”.