Revista Rua


Sujeito histórico e amor eterno: a significação da figura materna em músicas sertanejas
Historic subject and mother`s love: the meaning of the maternal figure in country songs

Maciel Francisco dos Santos e Telma Domingues da Silva

Introdução
O amor é tema de muitas canções, nos mais variados estilos musicais. Embora nessa formulação (a canção popular) predomine o cantar o (ou sobre o) amor conjugal, observa-se a ocorrência, no contexto da música sertaneja, de letras de música que abordam o amor de filho para mãe e/ou o amor de mãe para filho. Na realidade, esse tema é recorrente nas letras de música sertaneja, especialmente nas mais antigas, e é provável que esse seja o estilo musical mais dedicado a enaltecer a figura materna.
Esta análise teve início a partir de uma pesquisa desenvolvida no contexto do Mestrado em Ciências da Linguagem/ UNIVAS.[1] A partir da análise de discurso, e tendo em vista trabalhos de pesquisa nesse contexto, como os desenvolvidos pelo Laboratório de Estudos Urbanos – Labeurb/ Unicamp (cf., por exemplo, ORLANDI 2001 e 2004), o espaço é compreendido em sua simbolização por e para o sujeito. Nas letras de música sertaneja, produz-se o urbano e o rural como lugares opostos, através de elementos que contrastam. 
Com esta reflexão, buscamos compreender, nas músicas sertanejas, o funcionamento de um discurso sobre o amor de mãe e um discurso de amor de filho, tomando como corpus cinco canções do estilo que produzem sentidos enquanto discurso amoroso no âmbito da relação filho/mãe.[2] A análise partiu do estudo das condições de produção da música sertaneja, da relação que esta tem com uma “origem caipira” do sujeito, por um lado, e, por outro lado, com os processos de urbanização.
Tendo como objetivo compreender o discurso amoroso de um sujeito filho, atentamos para o fato de como a mãe é significada nas letras que escolhemos: a significação é produzida a partir do filho, locutor dessa enunciação específica, a canção sertaneja.
A partir da leitura de Guimarães (2010), que aborda a poesia de uma perspectiva enunciativa, podemos compreender um certo lugar de fala do sujeito da enunciação, no caso, o locutor poeta. Para a análise que aqui realizamos, o sujeito da enunciação pode ser pensado como locutor sertanejo, locutor específico de um tipo de enunciação poética, que ocorre no contexto da música sertaneja, contexto discursivo marcado pelo


[1] Trata-se da pesquisa “O contraste entre campo e cidade nas músicas sertanejas”, em que buscamos compreender a significação dos espaços rural e urbano nas letras de música sertaneja, que foi desenvolvida por mim como pesquisador no projeto “Discurso jornalístico, mídia e sujeito”, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Telma Domingues da Silva, na Universidade do Vale do Sapucaí (Univás). E-mail: macielfsantos@gmail.com.
[2] Mamãe, Mamãe, Mamãe, gravada em 1964 por Tonico e Tinoco; Mãe Amorosa, gravada em 1973 por Abel e Caim; No Dia Em Que Saí de Casa, gravada por Zezé Di Camargo e Luciano em 1994; Mãe, gravada por Lucas e Luan em 1997; Mãe, gravada por Rick e Renner em 2004.