Revista Rua


Sujeito histórico e amor eterno: a significação da figura materna em músicas sertanejas
Historic subject and mother`s love: the meaning of the maternal figure in country songs

Maciel Francisco dos Santos e Telma Domingues da Silva

(estereotipadas) de se demonstrar o amor. Orlandi (1990) faz uma análise da fórmula eu-te-amo, a mais comum, dizendo que ela pode tanto inviabilizar o amor como ser algo que diz tudo, melhor dizendo, ela não é capaz de exprimir tudo que o sujeito sente e quer falar, mas por outro lado pode ser a forma do sujeito dizer tudo que sente em menos palavras, como se a fórmula contivesse todo sentido do amor. Podemos observar fórmulas como essa no discurso de/sobre o amor instaurado nas canções, que também jogam com essa contradição do tudo e do nada. É o que podemos observar nesse recorte:
 
“Mãe, tão puro amor de mãe
Que às vezes não me vêm palavras pra expressar
Mãe, pra ti conjugo o verbo amar”
 
Através da fórmula “pra ti conjugo o verbo amar”, o locutor sertanejo exprime todo seu amor, mas ao mesmo tempo não lhe “vêm palavras pra expressar” esse amor.
Ao dizer seu amor através de fórmulas como eu-te-amo, “o sujeito está trabalhando sua finitude e seu desejo de eternidade” (ORLANDI, 1990, p. 92). No discurso de amor, a ilusão que o sujeito tem de ser a origem do seu dizer é ainda mais forte e se dá na relação do sujeito com a duração de sua subjetividade, é nessa relação que ele afirma sua eternidade, sua completude, sua singularidade. O dizer aparece como se fosse a primeira vez e para sempre. Novamente aparece a contradição, o aqui manifestando o momento da enunciação e o sempre manifestando a duração do dizer de amor, um paradoxo entre o instante imediato e o eterno.
Orlandi (1990) diz que as fórmulas de amor podem significar de diferentes maneiras, como, por exemplo, comprometimento perante a lei do casamento. No nosso caso, pensamos que ela traz uma ideia de gratidão, de reconhecimento do amor demonstrado pela mãe e todo seu esforço para ver o filho feliz.

Outro fator interessante do discurso de amor, que também se dá na contradição e que vai aparecer na descrição da dedicação do amor materno, é a absolutização. Segundo Orlandi (1990), a absolutização é um componente da relação complexa entre unidade e dispersão, inerente ao tenso processo de subjetivação do sujeito. Nesse movimento de identidade, o sujeito atravessa e é atravessado por várias formações discursivas, o que atesta sua incompletude, sua significação dependente da historicidade; não há um sujeito em si, onipotente. Mas, por outro lado, o apagamento dessa significação pela exterioridade, pelo pré-construído, faz com que o sujeito