Revista Rua


Sujeito histórico e amor eterno: a significação da figura materna em músicas sertanejas
Historic subject and mother`s love: the meaning of the maternal figure in country songs

Maciel Francisco dos Santos e Telma Domingues da Silva

diretamente o “cantar o amor da mãe” pelo locutor sertanejo, já que esse cantar tem tudo a ver com a separação do filho, que vai para a cidade grande.
Pensando nas duas canções que utilizam o dialeto caipira, poderíamos dizer que, a partir de uma discursividade caipira, o locutor sertanejo marca sua posição sujeito (identidade caipira), inclusive através da variante linguística empregada, que lhe é significante. Falar o dialeto caipira é mostrar-se parte de uma sociedade caipira, é afirmar uma identidade própria através dessa língua que o constitui como sujeito caipira. Essas canções se mostram então como um lugar de fala desse sujeito caipira, onde a ocorrência da variante linguística não é estranha, mas, ao contrário, é o “lugar correto”.
 
Considerações finais
Primeiramente, em relação à figura da mãe, a exaltação do amor materno mostra que nesse conjunto de textos se faz presente a idealização da figura materna. Mais do que expressar seu amor pela sua mãe, o locutor sertanejo é levado a falar “a mãe” de modo a reforçar os estereótipos sobre a figura materna presentes na sociedade – no sentido da imagem de uma “abnegação materna”, pela sua caracterização como alguém extremamente amável, compreensiva, carinhosa, dedicada, cuidadosa e principalmente que sofre por causa do filho e pelo filho. Contudo, vimos que, no discurso de amor, o estereótipo significa mais do que uma forma cristalizada: “Pensamos que só uma redução drasticamente pragmática se beneficia da visão do estereótipo em sua fixidez. Discursivamente, ele pode ser visto como um lugar de manifestação do dizer para ultrapassar essa fixidez mesma que ele aponta” (Orlandi, 1999, p. 80).
Pudemos ver que o discurso amoroso instaurado nas canções é um discurso marcadamente subjetivo, no qual o locutor sertanejo se significa pela intensidade de seu amor, gratidão e carinho pela mãe. Essa subjetividade é constitutiva do sujeito, ela revela seu desejo de completude e identidade. A separação, como vimos, é o que impulsiona o locutor sertanejo, enquanto sujeito filho, a exprimir seu amor de forma intensa.

Deve-se considerar ainda que, no plano simbólico, a urbanização tende a diminuir a distância entre rural e urbano. A tecnologia chega ao campo fazendo com que este assimile elementos do urbano, provocando uma alteração na orientação simbólica para o sujeito caipira, algo que acontece também na migração do campo para