Revista Rua


Sujeito histórico e amor eterno: a significação da figura materna em músicas sertanejas
Historic subject and mother`s love: the meaning of the maternal figure in country songs

Maciel Francisco dos Santos e Telma Domingues da Silva

a cidade, como nos fala Payer (1996). O contato com discursividades urbanas por parte do sujeito caipira se dá, portanto, não apenas na cidade, mas no próprio campo.
É de se notar que, muito embora o processo de urbanização seja real e se apresente como parte das condições de produção da música, a nomeação “música sertaneja”, bem como a adjetivação “sertanejo” em outros sintagmas, de alguma forma, mantém-se atual. O crescimento intenso da música sertaneja e a hegemonia de um modo de vida, o urbano, poderiam explicar, por outro lado, a diminuição da ocorrência do tema do amor entre filho e mãe[4].
Voltando ao discurso amoroso, e finalizando nossa reflexão, queremos salientar mais uma vez que o discurso de amor de filho e o discurso sobre o amor de mãe se constituem nas canções de forma entrelaçada, sem que haja uma distinção acentuada. O discurso religioso encontra-se também aí presente, associado ao discurso amoroso, atravessando-o, e marcando essa relação do sujeito com uma tradição popular, ao mesmo tempo familiar e religiosa. Percebemos a importância de compreender a especificidade do locutor sertanejo como lugar do qual se fala, entre as discursividades urbana e rural: este é um lugar enunciativo a partir do qual se fala do campo e da cultura caipira (ou seja, do espaço rural), situando-se já em um lugar outro, a cidade, o espaço urbano. O ambiente rural e seus elementos constitui o sujeito, mesmo que se apresentem enquanto elementos de um outro tempo e/ ou de um outro espaço. A representação nas letras desse distanciamento, ela mesma, produz-se como marca de uma identificação profunda, afetiva, de modo que, com a música sertaneja, o sujeito pode mostrar de onde jamais saiu.
 
 
Referências bibliográficas
 
Brandão, C. R. 1983. Os caipiras de São Paulo. São Paulo: Brasiliense.
Caldas, W. 1999. O que é música sertaneja. São Paulo: Brasiliense.
Guimarães, E. 2010. Andorinha, andorinha. In Revista Ecos. Ed. nº 009 [s. l]: [s. n], p. 197-207, jun.


[4] Esta reflexão se baseia no fato de que a música mais recente do corpus é de 2004, e que desse momento em diante não teria surgido na grande mídia uma música com a mesma temática abordada neste trabalho. É importamos relacionar isso com o mercado fonográfico e com a grande mídia, que acabam ditando quais os temas a serem abordados pela música sertaneja na atualidade.