Revista Rua


Sujeito histórico e amor eterno: a significação da figura materna em músicas sertanejas
Historic subject and mother`s love: the meaning of the maternal figure in country songs

Maciel Francisco dos Santos e Telma Domingues da Silva

Entender essa relação que a música sertaneja tem com o rural e com o urbano, bem como com a cultura caipira, implica considerar que as letras em análise não são textos fechados em si próprios e nem transparentes, elas tem sua historicidade, ou seja, uma relação com a exterioridade. A historicidade é constitutiva dessas letras e, dessa forma, “se se pode pensar uma temporalidade, essa temporalidade é uma temporalidade interna, ou melhor, uma relação com a exterioridade tal como ela se inscreve no próprio texto e não como algo lá fora, refletido nele” (ORLANDI, 2007, p.55). É nesse sentido que o texto é pensado como algo não transparente, mas algo opaco, que tem uma materialidade linguística.
É pensando na historicidade do texto, no seu modo de produzir sentidos, que Orlandi (2007) conclui que o texto é um material linguístico-discursivo, atravessado por várias formações discursivas. Podemos então dizer que as letras em questão são atravessadas, entre outras, por formações discursivas que remetem a um modo de vida caipira ou rural, ainda que, nas mais modernas, não estejam evidentes.
Considerando então que essa discursividade atravessa as canções do corpus, e tendo como foco o discurso sobre o amor de mãe, convém falarmos um pouco da significação da figura materna na família de cultura caipira, a fim de que possamos compreender a relação mãe/filho nessa sociedade rural.
 
A mãe na família caipira
Segundo Brandão, o trabalho nas comunidades caipiras “é essencialmente um trabalho em família” (1983, p. 68); assim sendo, podemos considerar que há bastante proximidade entre os membros de uma família caipira, juntos até mesmo no trabalho. A mãe, como cuidadora do lar, tem um papel essencial no trabalho, pois está bastante presente na casa e no quintal, dois dos lugares que Brandão (idem) considera como principais locais do trabalho caipira. Os filhos, que desde pequenos já ajudam nos serviços domésticos, crescem nesse ambiente, onde está o amparo de sua mãe.

Chega uma hora, porém, que o filho cresce e a separação é inevitável. As letras que estamos analisando abordam essa separação. No caso do sujeito proveniente de uma cultura caipira, a separação muitas vezes se dá pela migração para uma grande cidade, lugar onde o caipira busca melhores condições de vida. Na distância, a saudade do lar e da mãe não demora a incomodar. É esse incômodo e essa distância que deflagram o falar sobre/com a mãe, de modo que no lugar da distância/ausência incômoda se