Revista Rua


Sujeito histórico e amor eterno: a significação da figura materna em músicas sertanejas
Historic subject and mother`s love: the meaning of the maternal figure in country songs

Maciel Francisco dos Santos e Telma Domingues da Silva

Santificação da mãe e sua associação ao discurso religioso
O discurso religioso é muito presente, expressando-se de modos diferentes. Encontramos no corpus a aproximação da mãe com a própria mãe de Deus (Nossa Senhora). Temos na adoração ou na benção duas formas de referir a relação do filho com a mãe como uma relação que passa pelo sagrado. Vejamos:
 
“É o nome que na vida eu mais adoro
Sendo ela a razão do meu vivê
É mesmo que adorá Nossa Senhora
Que está no céu para sempre nos valê”
 
“Fique certa, Deus também guardou
Você no coração”
 
“Mãe! Deus te acompanhe mãe”
 
“Eu quero beijar tua mão
A bênção, oh mãe querida
Pedindo a Deus proteção
E muitos ano de vida.”
 
Esses recortes nos mostram que o amor entre mãe/filho realiza-se no cotidiano através de rituais instituídos por elementos de caráter religioso, que afirmam a religiosidade como parte constitutiva das relações familiares nesse âmbito discursivo. Os signos religiosos, como a benção, estabelecem uma ordem discursiva na relação entre mãe e filho: a mãe é aquela que pode abençoar, enquanto o filho é aquele que deve pedir essa benção e obedecer, seguir conselhos de sua mãe, respeitá-la.
E é nesse contexto ainda que o filho também pede a Deus proteção por sua mãe, reza por ela. A demonstração do amor apoiada no discurso religioso configura-se como algo que serve para intensificar esse amor, além de mostrar que o sujeito filho cumpre seu dever de bom filho dentro da ordem discursiva estabelecida.
Se a mãe é caracterizada como uma santa, como aquela que pode abençoar, e o filho caracterizado como o que deve a ela se submeter, respeitá-la e ouvir seus conselhos, o não cumprimento dessa ordem discursiva é tido como pecado, o que no discurso religioso pode ser considerado um tipo de transgressão, a “quebra das regras do jogo” (Orlandi, 2011, p. 254). A regra quebrada aí seria o quarto mandamento: Honrar pai e mãe. Vejamos alguns recortes que falam sobre isso: