Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

sentidos ligados à ação surpresa já estabelecem um lugar de encaixe, em que funciona o discurso transverso (cf. PÊCHEUX, 1993), seja como marca do ponto de retroação ligado à descrição da ação dos moradores por meio da zona de sentidos naturalizados por efeito de pré-construído como ação policial, seja pelo disfarce da maneira de esse domínio de memória entrar num jogo especular, em que se inclui a alienação da formação discursiva (FD) “moradores” à FD que a domina (“policiais” e o sentido naturalizado de “ação surpresa”).
Faz-se necessário apontar que o lugar de memória deste “elemento surpresa” veiculado pela ação policial se ancora no determinismo bio-político que se fortalece na passagem dos séculos XIX para XX, que, principalmente no espaço urbano demanda do sujeito uma posição, marcada por uma marca no imaginário, marca esta caracterizada pelo valor das atitudes previsíveis.
É a lógica da ciência jurídica, que por influência do empirismo lógico (PÊCHEUX, 1993) defende o pressuposto de que toda e qualquer coisa possa ser identificada (PECHEUX, 1981). Nesta lógica, fortalecem-se a perscrutação pública da conduta do cidadão, como aparece na Criminologia, na Frenologia, na Fisiognomia, enfim no suporte da morfologia anatomo-clínica, que trouxeram ao sujeito o estatuto de objeto das observações científicas; num momento em que o olhar inquisidor sobre o outro reinstalou uma espécie de inquisição, em que a ontologia burguesa da aparente liberdade em saber sobre si disfarça-se no anonimato e na liberdade de escolha (COURTINE & HAROCHE, 1988).
A docilidade deste homem urbano à perscrutação não aparenta objeção à sociedade da vigilância desde que sejam asseguradas as previsões de cada pequeno ato, para que assim possa ser examinado pelas autoridades jurídicas; somente estas estão autorizadas a aparecerem de súbito.
Devemos considerar ainda que a determinação do político em termos dos papéis sociais (cidadão, agente policial, etc.) em termos de posição-sujeito do discurso se engendra nos dilemas da consolidação da “personalidade democrática” (HAROCHE, 2005) e cuja roupagem imaginária torna-se a dominante. Há, portanto, um dilema entre a harmonia orgânica (traduzida inclusive corporalmente) e suas constantes reviravoltas na deferência e na ilusão de liberdade individual que nos une como cidadãos e em que o urbano sobreposto ao real da cidade por meio de uma mensuração imaginária e identificada com uma roupagem asséptica do “social” (cf. ORLANDI, 2011) tem na posição discursiva do agente policial um controlador das ações imprevistas, um efeito de aparador de arestas da “marginalidade” dispersa e indefinida.