Revista Rua


Radiodifusão, produção fonográfica e espaço urbano: formação e adensamento do fenômeno esquizofônico em Campinas-SP (... 1990)
Radio, music production and urban space: formation and growing of the squizophonic phenomenal in Campinas-SP (... 1990)

Cristiano Nunes Alves

cidade indicam dois momentos deste circuito, cada vez mais impingido a grande indústria cultural, invasora dos micro-circuitos das experiências sonoras cotidianas nos mais diversos lugares.
             Apresentamos, neste artigo, uma periodização para o circuito sonoro em Campinas, um olhar a um só tempo para as variáveis produção fonográfica e radiodifusão no contexto de urbanização e industrialização do território brasileiro. Em nosso inventário do circuito sonoro em Campinas, além do levantamento bibliográfico sobre a temática, realizamos uma série de trabalhos de campo. Reunimos dessa forma um importante “campo de informação primário” resultante de entrevistas com agentes do circuito sonoro e visitas a lugares conformados ou apropriados por esse circuito.
Debruçamo-nos sobre a esquizofonia, fenômeno de rompimento entre a origem e a difusão do som, criador de paisagens sonoras (SCHAFER, 1997 [1977]), eletroacústicas, ponto de partida para entender as estruturas de enquadramento impostas pela indústria cultural por meio do estudo do circuito sonoro.
             É nesse sentido que tratamos do adestramento e da imposição musical de práticas consideradas impuras. No Brasil, durante o período colonial, num meio em que os conteúdos informacionais acionados e transmitidos se manisfestavam necessariamente pela presença humana, foram os padres os primeiros a ensinar música. Nesse contexto, a música, este dado constitutivo do cotidiano de lugares com pouca ou nenhuma relação entre si, participa como elo da formação do território nacional, no intento de doutrinar os nativos, introjetar-lhes um som e uma mensagem descendente, pois estranha às suas existências. Por meio da dança e dos sons, afirma L. Heitor (1945, p.143) “foi sendo conquistado para Cristo o rebanho selvagem.”
           Com a revolução elétrica e a disseminação de uma paisagem sonora de alta fidelidade, difundiram-se novas técnicas que possibilitaram a estocagem do som. Em virtude do afastamento dos sons de seus contextos originais, a partir do telégrafo, explica R. M. Schafer (1997 [1977], p.133), constituiu-se o fenômeno da esquizofonia que refere-se ao rompimento entre um som original e sua transmissão ou reprodução eletroacústica.” A vida urbano industrial, e todo o alastramento das próteses no território que lhe é característica, desde então, cria lugares ruidosos, impregnando o meio sonoro, tornando-o eletroacústico.