Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

Introdução[2]
Nosso objetivo aqui é promover uma reflexão em torno de pressupostos teórico-metodológicos que podem subsidiar análises de materialidades imagéticas de sentido, fundamentada em três perspectivas de compreensão imbricadas: 1) imagem enquanto objeto simbólico-ideológico; 2) imagem como espectro do visível e do invisível, em uma aproximação com as noções de paráfrase e polissemia; 3) imagem como produção tecnoideológica de sentidos.As três perspectivas são consideradas em conjunto mediante a compreensão de que uma imagem é um discurso, ao mesmo tempo em que reclama sentidos, pois estes não estão “dados, contidos ou mesmo escondidos” nela.
O desafio que se coloca, portanto, é o de escrever uma história do funcionamento dos discursos hoje, com um olhar retrospectivo como forma de compreensão do presente, de modo a tecer análises que tomam como objeto “os sentidos no mundo da vida”, alicerçando-nos em bases que já de outrora foram solidificadas com rigor teórico-epistemológico, e impõem pensarmos em sentidos que evocam sempre uma determinação histórica que, todavia não é um caminho já traçado, uma vez que não é “determinista”, é sujeito a falhas, ao impossível de se apreender a completude.
Partimos da ideia de que trabalhar com imagens não é novidade em Análise de Discurso (AD). Primeiro porque há quase três décadas, Pêcheux (1990, 1999 [1983])[3] tecera princípios para análises de imagens, fundamentados no conceito de memória e trajeto de leitura. Segundo porque o desenvolvimento dessas bases encontrou terreno fértil em estudos sobre as mais diversas formas de significação dos espaços urbanos e dos sujeitos na contemporaneidade (rap, piercing, tatuagem, muros, pichações, manifestações sociais, mapas, conversa de rua, etc.), em obras como Cidade atravessada (2001); Cidade dos sentidos (2004a); Para uma enciclopédia da cidade (2003), o que reverberou inclusive em Projeto de Pesquisa e produções em nosso grupo de trabalho.[4]


[2] Adotamos, neste estudo, as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovado em 1991 e vigente desde janeiro de 2009; entretanto, mantemos a grafia original das obras a que nos reportamos em citações, e em seus títulos, em atenção à respectiva data de publicação.
[3] Referimo-nos aos textos Papel da memória e Discurso: estrutura ou acontecimento, ambos de 1983. Nesta referência e nas seguintes, quando houver, utilizamos entre colchetes o ano de escritura ou de primeira publicação dos textos.
[4] Projeto “Constituir, formular e fazer circular sentidos: dispersão e memória no discurso sobre/na cidade”, de autoria e coordenação da prof.ª Dr. Amanda E. Scherer, o qual teve alguns dos resultados publicados em Fragmentum n. 16, UFSM/PPGL/Laboratório Corpus, 2008.