Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

Talvez a “novidade”, se ela existe, resida na forma como se dá o acesso aos modos de produção de objetos simbólicos, pois sabemos que estes se apresentam irremediavelmente atravessados por processos informático-midiáticos de produção de sentidos. Sobretudo, vale o postulado de que a Ideologia em geral, enquanto princípio organizador naturalizado, não tem história, não muda, por outro lado, os sujeitos se modificam, as ideologias têm uma história própria e existência concreta, alteram-se para que, todavia, a Ideologia perdure inquebrantável (?).[5]
 
1. Imagem em relação ao simbólico e ao ideológico
 
Através das estruturas que lhe são próprias, toda língua está necessariamente em relação com o ‘não está’, o ‘não está mais’, o ‘ainda não está’ e o ‘nunca estará’ da percepção imediata: nela se inscreve assim a eficácia omni-histórica da ideologia como tendência incontornável a representar as origens e os fins últimos, o alhures, o além e o invisível (PÊCHEUX, 1990, p. 8).
 
A formulação de Pêcheux com a qual abrimos propriamente este artigo é também o fundamento em que nos baseamos, pois procuramos trilhar um caminho em busca do que não está visível na materialidade discursiva (imagem-discurso), mas está latente como vestígio ideológico de outros sentidos possíveis, no jogo parafrástico de filiações históricas. O objetivo é, portanto, tratar imagem como discurso e este por sua vez como materialidade específica da ideologia.
De acordo com Pêcheux e Fuchs (1993), não há sentido sem articulação entre simbólico e político, já que o simbólico não diz respeito a etiquetas que representam um determinado objeto, do qual a ordenação, a categorização e a interpretação preexistiriam à significação, nem o político remete à organização política das sociedades, mas às forças em confronto que dividem o real. É desse jogo que as significações advêm. Para a constituição dos sentidos, há certo investimento social em determinados objetos simbólicos por meio do qual os sentidos vão se constituindo historicamente, de modo a atestar como vai se efetivar a relação dos sujeitos com os discursos (as imagens).
A imagem, na forma sobredeterminada em que é produzida e posta em circulação na mídia, por exemplo, funciona como “operador da memória social” (PÊCHEUX, 1999 [1983], p. 51). Essa memória agenciada nas mídias passa a compor um universo das chamadas evidências de sentidos. Considerada essa relação entre memória e produção de evidências, outro conceito configura-se como vigoroso dispositivo de análise da materialidade imagética: o de formação ideológica.


[5] Ver em Pêcheux (1975 [1995], p. 149-158) sobre a distinção entre formação ideológica, ideologia dominante (ideologias) e Ideologia.