Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

 Em I-1, teríamos então a “foto original”, em que todos os elementos e personagens figuram. Na transição de I-1 para I-2, ocorrem, pelo menos, seis modificações/apagamentos, indicadas nessa ordem, em I-1:
1 – o suor aparente na camisa do então candidato é amenizado;
2 – uma estrutura branca é retirada;
3 – a figura de um general, chefe da segurança do candidato, é apagada;
4 – novos personagens são inseridos no vazio resultante do último apagamento;
5 – o azul do céu é intensificado e nuvens cinzentas desaparecem;
6 – uma mão estendida é eliminada.
A I-3 é resultado da transição de I-1 para I-2 e ganha status de imagem símbolo da campanha para figurar, nesse caso, em grande placa afixada em residência de apoiador da campanha. O “povo” é caracterizado pelo conjunto da imagem: moradia de tijolos sem revestimento, varal na frente da casa, ou seja, via estereotipia em ampla circulação.
Na foto-montagem I-4, o cenário de I-1 é quase que em sua totalidade substituído por um fundo verde, porém, permanece um vestígio: a mão estendida.
Cabe mencionar que a escolha dessa “imagem-memória”, formando essa série que pudemos circunscrever, tem caráter peculiar[20]. Em 2006, no trajeto de ônibus pela rodovia que leva à UFSM, em Santa Maria (RS), placa como a em I-3 emergia como monumento à beira da estrada, em frente a uma casa simples, cobrindo quase toda sua extensão. Foi o inusitado do “acontecimento” que nos chamara a atenção. Hoje, nossa compreensão acerca de fatos de mídia chega a outro olhar que, no mínimo, leva em conta a intervenção informática nos processos de produção de sentidos, que inclui procedimentos hiperbólicos que redimensionam o modo como os fatos nos são dados a conhecer e que são, muitas vezes, perversos, colocando-nos em um mal-estar inquietante no tocante à tarefa de interpretar.
Essa sequência descritiva tem caráter esquemático e organizativo do exemplo (e não explicativo ou de “tradução” da imagem, possibilidade inviável e equivocada, a nosso ver). Ela tem a finalidade, sobretudo, de destacar os pontos que nos levam a compreender que, em face da fluidez, a materialidade histórica constitutiva dos sentidos


[20] Agradecemos a André Luís Campos Vargas pelo empenho na operação de memória (discursiva em funcionamento na metálica) que mediou o processo de busca pelas imagens que figuram na composição dessa série que exemplifica o conceito de historioprodução. Cremos que aqui esteja, de certo modo, configurado o que Courtine (2005, 2008) chama de “intericonicidade”, processo com história, com ideologia, com sujeitos.