Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

Conforme Pêcheux e Fuchs (1993, p. 166), as formações ideológicas (FIs) são um “conjunto complexo de atitudes e representações que não são nem individuais, nem universais, mas se relacionam mais ou menos diretamente a posições de classes em conflito umas com as outras”. Além disso, caracterizam-se por serem elementos capazes de intervir como uma força em confronto com outras na conjuntura ideológica de uma determinada formação social. As FIs se materializam linguisticamente em formações discursivas (FDs). Por seu turno, as FDs definem-se como “aquilo que, numa formação ideológica dada, [...] determina o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.)” (PÊCHEUX, 1995 [1975], p. 160). Entendemos, assim, que a noção de FD desenvolvida por Pêcheux inclui um aspecto determinante: o da ideologia.
Tal questão nos toca diretamente, uma vez que a ideologia[6] está ligada ao excesso e não à falta. Se a imagem, em sua materialidade própria, e mediante as redes que estabelece com as séries de imagens que povoam a “realidade” social, instaura sentidos, não os instaura de forma isolada, desconectada; ela, antes de ser analisada como peça avulsa e unilateral, fora do jogo da história, deve ser concebida de maneira mais ampla. Na garimpagem por processos de signi?cação, a imagem deve ser observada como sendo relativa a uma formação ideológica. Em determinadas condições, as textualidades não podem ser analisadas separadamente (como na perspectiva dicotômica verbal x não verbal), pois, independente de suas formas textuais, elas são arranjadas na dependência interdiscursiva de sentidos possíveis, tomados em uma formação ideológica que orienta a “montagem” e, portanto, as versões que se alinham a determinados sentidos e que produzirão os efeitos de sentido. O que significa que uma imagem não pode ter diversas interpretações tantos quantos forem os leitores que nela se debruçarem.
Além da questão ideológica, as condições de produção de imagens e as formações imaginárias que as constituem discursivamente, inscritas na história, limitam os laços que a discursivizam, uma vez que as formações imaginárias se manifestam, no processo discursivo, através da antecipação, das relações de força e de sentido. Na antecipação, o sujeito projeta uma representação imaginária de seu interlocutor e, a partir dela, estabelece seus modos de discursivizar (materializados de diferentes formas). O lugar de onde fala o sujeito determina as relações de força no discurso,


[6] Ideologia é tomada aqui como direção de sentidos, a própria condição destes e não mascaramento ou ocultação. Na posição que assumimos, os sentidos não se encontram escondidos, pois a ideologia mostra-os.