Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

3.1 Sobre a noção de forma material
Para Orlandi (2005, p. 39), a forma material representa de certo modo o fato de que em AD não basta trabalhar com o real da língua, mas se faz necessário também o real da história. A noção pode ser compreendida como:
forma (não empírica nem abstrata) constituída pela/na discursividade, forma em que se inscrevem os efeitos da articulação língua/história, acontecimento do significante no sujeito [...] a materialidade da forma discursiva implica o funcionamento ideológico da palavra (ORLANDI, 2005, p. 129)
Orlandi (2005) propõe um deslizamento da noção de “forma material” da linguística, em que materialidade identifica-se com a forma linguística, com a norma, etc., para tratá-la no âmbito do discurso, ou seja, vinculada às práticas, aos sentidos em funcionamento na sociedade. Em face disso, a AD enquanto disciplina que tem como objeto o discurso
 
coloca como base a noção de materialidade, seja lingüística, seja histórica, fazendo aparecer uma outra noção de ideologia, possível de explicitação a partir da noção mesma de discurso e que não separa linguagem e sociedade na história (ORLANDI, 2004, p. 25).[12]
 
Para a pesquisadora, “o discurso é uma prática. No sentido de que é uma mediação necessária, um trabalho (no caso, simbólico) entre o homem e sua realidade natural e social. Prática[13] significando, pois, ação transformadora” (ORLANDI, 1995, p. 39), portanto, prática de significação do mundo.
Ao adotarmos a perspectiva de Orlandi (1995), no texto Efeitos do verbal sobre o não verbal, consideramos a oposição verbal/não verbal problemática, na medida em que o processo discursivo é compreendido como algo dotado de forma material. Além disso, em AD, escusada a tautologia, analisamos “discursos”, compreendidos como objetos simbólicos, isto é, enunciados, textos, pinturas, músicas, imagens, etc. O interesse é, assim, pelo modo como esses objetos produzem sentidos para e por sujeitos (ORLANDI, 2002). Nesse sentido, levamos em conta ainda a noção de texto desenvolvida por Orlandi (2004, p. 59), que contempla diferentes materialidades, dado seu caráter heterogêneo, no que diz respeito: à natureza dos diferentes materiais simbólicos: imagem, grafia, som, etc.; à natureza das linguagens: oral, escrita, científica,


[12]    Itálico da autora, negrito nosso.
[13] Ao aludir ao discurso como “prática”, Orlandi, todavia, distancia-se de uma visão pragmaticista de linguagem, pois o que está em jogo não é uma linguagem que, colocada em uso, realiza atos, mas a prática de significação do mundo/da vida em sua complexidade, enquanto intervenção no real (cf. ORLANDI, 2005).