Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

olhar para horizontes alhures, prenhes de alternativas políticas. Nessa perspectiva, a deriva do olhar e a deriva dos sentidos parecem mutuamente imbricadas às possibilidades de acontecimentos discursivos, em um devir histórico.
 
3. Imagem: materialidade dos sentidos e historioprodução do tempo presente
Este terceiro ponto de nossa reflexão leva em conta o discurso da mundialização, aquele da fluidez de sentidos na contemporaneidade on-line. Todavia, objetivamos sair dessa “órbita de volatilidade”, em que quase tudo é relativizado e os sentidos podem se diluir na instantaneidade de um clique. Pelo contrário, visamos a uma reflexão crítica, concernente a discursos em circulação, oriundos de práticas simbólicas de sentidos que redundam em efeitos materiais, emoldurando lugares, tecendo ou desfazendo laços sociais (cf. SCHERER, 2008). Assim, os discursos em circulação são tomados não em sua efemeridade, mas no tocante aos efeitos materiais que deles emanam. Sobretudo, estamos considerando a ordem do “político” que dita as significações e, portanto, encontra ecos na língua, nos discursos (cf. PÊCHEUX e GADET, 2004; RANCIÈRE, 1998, 1996).
Ao problematizarmos esse cenário, somos defrontados com diferentes materialidades significantes, especialmente, imagens, vídeos, fragmentos de textos, etc., em circulação hoje, colocando em jogo o político da divisão dos sentidos. Tal circunstância nos leva aqui a um exercício reflexivo que repousa sobre a noção de “forma material”, tal como esta pode ser compreendida em uma concepção materialista histórica, bem como desenvolvida em AD por Orlandi. Esse conceito, aliado a outros que lhe estão imbricados (ideologia, interdiscurso e memória), oferece-nos subsídios para empreendermos análises com referência às mais diversas materialidades significantes, quando não nos focamos nos ditames da “ilusão referencial” de palavras que se “colam” a coisas ou mesmo assumem a própria ontologia destas, mas quando encaramos, ao mesmo tempo, o alcance e os limites de uma teoria que prevê a análise dos sentidos em sua complexidade, relativamente aos modos contemporâneos de circulação dos discursos, estes que permitem a proliferação de sentidos de maneiras imprevistas. Importa sublinhar que trabalhamos com “discursos”, com objetos simbólicos, pois“a análise de discurso interessa-se por práticas discursivas de diferentes naturezas: imagem, som, letra, etc.” (ORLANDI, 2002, p. 63)[11], dito de outro modo, por “formas materiais”.
 


[11]    Itálico nosso.