Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

linguística, mas que se constituem alhures (nos processos sociais), e são representados na base linguística, e que, portanto, constituem uma forma de discursividade, tal como aponta Pêcheux:
Os processos discursivos não constituem, pois, em absoluto, um ‘cantão’ isolado em sua autarcia e submetido a uma necessidade específica. Em particular, o que chamamos autonomia relativa da base lingüística não poderia, sob o pretexto de que está na base, imprimir sua forma aos processos discursivos que se desenvolvem sobre sua base; os termos: interdiscurso, intradiscurso, efeito de pré-construído e efeito-transverso – [...] e que justamente caracterizam [...] a forma da discursividade – não correspondem, portanto, a fenômenos lingüísticos: representam, em relação à base lingüística, a existência determinante do todo complexo das formações ideológicas, submetido, em condições históricas sempre específicas, à lei ‘geral’ de desigualdade que afeta essas formações (PÊCHEUX, 1995, p. 259).[15]
 
Pelo que precede, especialmente pela noção de interdiscurso, conforme destacamos, podemos compreender que o discursivo não é sobredeterminado pelo linguístico, uma vez que se concebe uma determinação de caráter ideológico para os sentidos, relações de desigualdade que afetam toda significação. Compreendemos ainda o discurso como trabalho e linguagem como prática (cf. ORLANDI, 2007, [s/p.]), isto é, materialidades que advêm da produção da vida dos sujeitos em sociedade, da ação simbólica que intervém no real, levando em conta uma ordem sempre em processo, nunca dada ou acabada sobre a qual se possa “aplicar” uma ortopedia analítico-interpretativa. Se a vida é um processo histórico, a tarefa do analista não poderia estar senão situada nessa incompletude determinada historicamente pelos processos sociais, pois não há outra forma de constituir o real senão pela linguagem, pelo trabalho com os sentidos.
Cabe salientar que, de acordo com Orlandi (2007), em AD, não trabalhamos com a língua em si, mas com esta funcionando em relação à historicidade, na sociedade. Trabalha-se antes com a noção de materialidade linguístico-histórica, em que o linguístico não está restrito ao verbal, mas vinculado à prática de sentidos, de leitura/significação do mundo. Nessa conjuntura, “o desenvolvimento das tecnologias de linguagem pode alterar aspectos da forma histórica do sujeito deslocando o modo como se dá a autoria” (Id., 2005, p. 203) e, diríamos ainda, que redefinem decisivamente o modo como se dá a leitura/interpretação.
Os trabalhos de Dias (2009), por exemplo, têm nos mostrado que a língua/escrita na materialidade digital guarda especificidades, dentre elas, a de uma corpografia, ou


[15] Itálicos no texto, negritos nossos.