Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

literária, narrativa, descritiva, etc.; às posições sujeito e às diferentes Formações Discursivas (FDs) que podem transitar em um texto.
Tal entendimento nos possibilita sair do jugo da textualidade, chegando a uma compreensão dos processos de produção de sentidos, sem ceder à dominância ou ao desejo de tradução do não verbal pelo verbal, tal como adverte Orlandi (1995), quando destaca a importância de nos desvincularmos de uma relação imaginária com o verbal, visando a desrefratar o jogo de reflexos, as simulações, mesmo porque a própria materialidade linguística, tomada em sua opacidade, constitui sentidos sempre em “relação a”.
A autora destaca também (Id.) a importância de não tomarmos posições que promovam uma assepsia do não verbal, resgatando sua “transparência” via verbalização. Isso porque tanto as imagens, quanto as materialidades da língua sempre instam à interpretação, a uma leitura, portanto, a uma simbolização/metaforização das relações de sentidos colocadas em jogo em diferentes modalidades significantes.
O que queremos sublinhar remete ao fato de que a noção de materialidade “nos leva às fronteiras da língua e nos faz chegar à consideração da ordem simbólica, incluindo nela a história e ideologia” (Id., 2004, p. 46). Além disso, “a constituição do sentido se dá fora de nosso alcance direto, na relação com o interdiscurso. Este representa como uma história que não se situa. Ele não está alocado em lugar nenhum. É uma trama de sentidos” (ORLANDI, 2004, p. 76).[14] Por conseguinte, é pela opacidade, pelo corpo da linguagem, pela ideologia que o sentido se constitui e não pela/na formulação. Desse modo, o que nos proporciona o trabalho com a exterioridade discursiva (ou exterioridade constitutiva) é o de interdiscurso (cf. ORLANDI, 2004), este que é de natureza material contraditória, uma vez que sempre fala, antes e independentemente, e também tem caráter irrepresentável (ORLANDI, 2006).
Quando se concebe os discursos a partir de uma perspectiva materialista, salvo a redundância, é preciso tomá-los como produzidos materialmente, como objetos simbólicos oriundos de práticas de linguagem, tal como desenvolve Orlandi em vários de seus trabalhos. Isso nos permite postular que não cabem separações entre modalidades de discursos (verbal, não verbal, imagético, etc.), o que importa é considerarmos como esses diferentes registros discursivos funcionam em relação a sua constituição/formulação/circulação e em suas especificidades. Além disso, tratamos de processos discursivos – da inscrição da língua na história – que têm como loco a base


[14] Negrito nosso.