Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

as formas que tomam as discursividades, impondo limites ideologicamente determinados sobre o que deve ser visibilizado e o que deve ser esquecido.
Sendo assim, entendemos que o deslocamento da fronteira entre o visível (o que se expõe à visão) e o invisível (o que se esconde ou escapa ao olhar) produz efeitos de sentido, cuja forma material não nos parece de todo diferente àquela da paráfrase (repetição do mesmo) e da polissemia (derivas de sentido, irrupção da diferença), como trabalhadas por Orlandi (2002). Exploremos este aspecto.
A memória discursiva não é afetada pelo invisível subitamente tornado visível à luz do dia? Esse questionamento poderia ser pensado a partir da antinomia transparência e opacidade das relações socioeconômicas. Pêcheux (1990 [1980]) nos faz lembrar de que, na concepção marxista de socialismo, a transparência da produção social tornaria a ideologia sem função, uma vez que seus efeitos de ilusão/alusão não teriam mais que fazer invisíveis as barreiras políticas e as relações de dominação não mais existentes.
Essa possibilidade de mudança no regime de visibilidades talvez nos permita fazer uma releitura crítica das formulações acerca das imagens espetaculares de Debord (1992). Para esse autor, as imagens do espetáculo da vida subordinam os espectadores, alienando-os na condição de contempladores passivos, mediante o direcionamento do olhar, alheando-os de si mesmos diante do reconhecimento e identificação com imagens dominantes. Tornam-se sujeitos invisíveis a si mesmos, alheios a seus gestos, a seus desejos, a seus corpos.
Talvez uma possibilidade de se escapar dessa condição seria dada pela (re)apropriação das imagens, fazendo visível o que era invisível, ou seja, os sujeitos feitos visíveis a si mesmos como novos sujeitos da história. Não se trataria da recusa da produção e circulação de imagens em nossa formação social, mas de inversões e deslocamentos, de tal modo que o espetáculo seja assombrado por espectros do irrealizado político, sejam eles coloridos, radiantes e/ou obscuros e misteriosos em suas composições.
A fim de exemplificarmos como se dá a relação entre visível x invisível, com referência aos processos produtivos de linguagem paráfrase (o mesmo) e polissemia (o diferente), propomos um breve ensaio de análise de uma imagem relativa a um movimento social espetacularizado. Esse processo não ocorre, porém, de modo linear, pois há um deslocamento na forma como os sujeitos são dados a se ver, sem se mostrar de todo...