Revista Rua


Imagens da/na contemporaneidade: um convite à análise, uma convocação à teoria
Images of/in the contemporaneity: an invitation to analysis, a convocation to theory

Rejane Arce Vargas, Caciane Souza de Medeiros, Maurício Beck

enquanto as relações de sentido pressupõem que não há discurso que não se relacione com outros. As formações imaginárias, enquanto mecanismos de funcionamento discursivo, não dizem respeito a sujeitos físicos ou lugares empíricos, mas às imagens resultantes de suas projeções, ou seja, são dependentes de processos discursivos anteriores.
Ao nos depararmos com imagens, encontramo-nos em um embate que con?gura um jogo discursivo entre o que se observana tessitura visual da imagem e o que não é imediatamente perceptível.
O que é da ordem do visível se formula por meio de uma rede parafrástica, isto é, umconjunto complexo de imagens em torno do mesmo, do repetível e socialmente estabilizado, que circunscreve certa regularidade acerca de objetos simbólicos – imagem de beleza, de agricultor, de mãe, de sexualidade, de infância, de felicidade, de política, etc. – e se articula na instância do esquecimento número dois (cf. PÊCHEUX, 1995 [1975]), ou seja, os sujeitos operam uma escolha, mediada pela FD que os domina, dentre uma rede de sentidos possíveis que se encontram em relação de paráfrase. Tal escolha fornece aos sujeitos uma ideia de ilusão referencial, de relação direta entre as coisas e o mundo.
Por sua vez, o que é da ordem do invisível remete igualmente a um todo complexo extralinguístico, porém entretecido pela possibilidade polissêmica latente que pode fazer emergir a diferença no interior das regularidades, via uma rede interdiscursiva, que comportaria todo o conjunto possível de imagens, aquelas esquecidas, apagadas, negadas, isto é, aquelas que não se inscreveram na história e são da instância ideológica constitutiva dos discursos (o esquecimento nº 1, cf. PÊCHEUX, Id.).[7]
É nesse jogo, entre os elementos que habitam a superfície da imagem e os que a permeiam, por vezes esquecidos na densidade da história, que devem ser instauradas as análises.
Entendemos, portanto, que o sentido se constitui a partir da correlação entre os elementos visíveis na imagem e aqueles que não se encontram nela explicitados, mas que se deixam entrever como um inquietante indício de outros sentidos possíveis.
Com uma sequência de imagens históricas em nossas mãos, devemos atentar ao que Pêcheux apontou como uma espécie de dominância do sentido, em que "o não-afirmado precede e domina o afirmado" (PÊCHEUX; FUCHS, 1993, p. 178). Os


[7]    Sobre os esquecimentos 1 e 2, ver Pêcheux, 1995 [1975], p. 173.