Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

Introdução
 
As reflexões que ora apresentamos integram um estudo amplo, apenas iniciado, cujo objetivo primeiro, a partir da perspectiva da Análise de Discurso, propõe investigar as práticas discursivas no espaço de dizeres do jornal.
Diante das reflexões teóricas desenvolvidas no interior do Grupo Cartografias da Linguagem, objetivando pelos estudos da história das ideias linguísticas no Brasil, a questão da constituição da subjetividade no espaço discursivo do jornal e da literatura, que circulou em Mato Grosso na segunda metade do XIX, conforme resultados apresentados pelo Projeto “Topografias Discursivas: Uma História das Ideias em Mato Grosso”, inscrevo este trabalho de leitura, buscando dar visibilidade aos processos de construção da nacionalidade do sujeito brasileiro numa relação com a língua.
É pela história da constituição de uma língua que, segundo Orlandi (2002), podemos tomar como materialidade de análise a história de um país e de suas instituições. Assim, desejamos dar visibilidade às produções e aos espaços discursivos produzidos pela imprensa matogrossense, no processo de constituição dessa língua nacional no espaço matogrossense do século XIX.
Tomamos esse funcionamento discursivo da escrita jornalística do século XIX, em jornais (A Opinião, 1878;O Povo, 1879) que circularam no estado de Mato Grosso, numa relação com a produção literária de José de Alencar, mais especificamente no ano de sua morte, como material de análise. Filiamo-nos à teoria da Análise de Discurso, questionando pelos modos a partir dos quais a escrita jornalística materializa e produz sentidos para o sujeito e para aprópria língua. Pela língua jornalística enquanto espaço de espelhamento da relação língua/sujeito/mundo, problematizamos o estudo dessa relação a partir de Orlandi (2001; 1990), Pêcheux (1998), Payer (2006), Mariani (2008) e Authier-Revuz (1998), perguntando como se constitui o espaço de repetição nesse material que fora recortado para leitura, pois, em um primeiro contato, observamos os dizeres silenciados por outros dizeres da memória sócio-histórica que constitui o sujeito do XIX.
Os textos jornalísticos, que tomamos como materialidade linguística ao dizer sobre José de Alencar, acabam por produzir inconscientemente um efeito de alteridade, ou seja, o Outro da língua se torna constitutivo do sujeito articulista. Desse modo, propusemos questionar, em nosso corte, as noções teóricas de sujeito e língua para observar como se constitui um sujeito dividido-desdobrado no espaço do mesmo e do