Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

Nesse sentido, o trabalho com a língua, enquanto lugar de memória,
 
[...] nos leva a compreender ainda que, em relação à língua, a memória histórico-discursiva que é constitutiva dos sujeitos nem sempre é representada como tal. Isso ocorre, entre outros fatores, em função dos saberes que a historiografia torna (ou não) disponível ao corpo social, pelas vias de uma escola que é também nacional, ela mesma parte do dispositivo da nacionalidade, conforme a racionalidade moderna. Mas também, por outro lado, esse funcionamento não deixa de operar na esfera do recalque, no sentido de que fatos vividos não foram simbolizados pelo/para o sujeito. (Idem, p.43)
 
Escavar, procurar os vastos indícios do funcionamento da memória na língua, face aos movimentos reflexivos dos sentidos, dos sujeitos no mundo, nos fará deparar com uma imensidão de valores materiais simbólicos que foram e que, de alguma maneira, continuam sendo soterrados por uma “racionalidade homogeneizante própria do Estado Moderno” (Idem, Ibidem, p.43).
Nesta direção, ao passo de compreendermos a memória na/da língua, não apenas enquanto jogos de palavras no tempo, mas enquanto troca de olhares outros no mesmo e enquanto possibilidades de formulações indistintas e múltiplas, recobriremos parte do imenso material subterrâneo no qual, de certo modo, encontram-se armazenados os infinitos elementos de memória constitutiva da/na língua.
 
Palavras (quase) finais
 
[...] o simbólico faz a irrupção diretamente no corpo, as palavras tornam-se peças de órgãos, pedaços do corpo esfacelado que o “logófilo” vai desmontar e transformar para tentar reconstruir ao mesmo tempo a história de seu corpo e a da língua que nele se inscreve: essa loucura das palavras, que pode desembocar na escrita (Rabelais, Joyce, Artaud ou Beckett), na poesia (Mallarmé) ou na teoria linguística, persegue sem trégua o laço umbilical que liga o significante ao significado, para rompê-lo, reconstruí-lo ou transfigurá-lo.
(PÊCHEUX, 2010, p.45)
 
 
Tendo como objeto de estudo a linguagem, as práticas dos dizeres do século XIX, e, partindo de uma teoria materialista, trabalhada por Orlandi (2005; 2009; 1996) e outros pesquisadores no Brasil, e Pêcheux (2004; 1998) na França pensamos um fecho