Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

posição do sujeito, que, ao formular, remonta sempre a um já-lá das formulações possíveis da língua.
Vejamos como Authier-Revuz (1990, p.31) problematiza a homogeneidade ou a ilusão de unicidade da língua/sentido/sujeito, face ao caráter da heterogeneidade:
 
A dupla designação de um fragmento outro e da alteridade a que remete constitui, por diferença, uma dupla afirmação do um. Ao nível da cadeia do discurso, localizar um ponto de heterogeneidade é circunscrever este ponto, ou seja, opô-Io por diferença do resto da cadeia, à homogeneidade ou à unicidade da língua, do discurso, do sentido etc.; corpo estranho delimitado, o fragmento marcado recebe nitidamente através das glosas de correção, reserva, hesitação, um caráter de particularidade acidental, de defeito local. Ao mesmo tempo, remete a um alhures, a um exterior explicitamente especificado ou dado a especificar, determina automaticamente pela diferença Um interior, aquele do discurso; ou seja, a designação de um exterior específico é, através de cada marca de distância, uma operação de constituição de identidade para o discurso.
 
 
A partir desta consideração, a noção do duplo da heterogeneidade, exposto à falha própria da língua, que a autora denomina de não coincidências do dizer, inscreve-se especularmente no eixo da linearidade, possibilitando especificar o Outro do discurso que atravessa/constitui o um de modo mais marcado.
Ao lado das não coincidências do dizer, no fio discursivo, encontramos laços metaenunciativos de dizeres que retomam reflexivamente sobre um determinado ponto de seu desenvolvimento, desdobrando sentidos que “[...] correspondem a um dos campos nos quais se realiza a configuração enunciativa complexa da modalização autonímica”. (Authier-Revuz, 2010, p.255) A autora, neste estudo, privilegia as formas marcadas diretamente, visíveis no fio discursivo, constituindo uma escala que vai desde as formas mais explicitas até as menos:
 
1) formas explicitamente metaenunciativas “completas”, comportando um eu digo X; 2) formas explicitamente metaenunciativas que implicam em eu digo X, subordinadas e sintagmas circunstancias, aposições; 3) formas explicitamente metalingüísticas, como um autônimo X ou Y; 4) formas sem elementos autônimo, ou sem elemento metalingüístico unívoco; 5) sinais tipográficos (aspas, itálico) e de entonação [...]; 6) formas puramente interpretativas [...] (AUTHIER-REVUZ, 1998, p.19).
 
 
O termo marcado faz referência a um discurso outro, o qual se dobra sobre o mesmo. Embora, não seja possível tomar essa marca como lugar de visibilidade, pois