Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

repetições inesgotáveis, a partir de laços metaenunciativos, reflexivos, no fio discursivo. Nesse funcionamento, a alteridade passa a constituir um espaço heterogêneo e múltiplo de dizeres possíveis, em um espaço possível, a partir de uma memória da língua que se re-significa na/pela história.
O efeito de retorno e de re-significação dos sentidos, no espaço heterogêneo de dizeres indistintos e possíveis, torna necessário pensar a língua como espaço de memória. Assim sendo, a disposição dessa memória na língua admite um funcionamento de identificação, na própria correlação existente entre sujeito/língua. Todavia, existem valores discursivos que a todo o momento desafiam o trabalho com a língua em espaços discursivos institucionalizados, em nosso caso, o jornal. Isso se dá, pois, na consideração da existência de todo um imenso material simbólico, silenciado ao longo da história de colonização, e, que, de alguma maneira, ainda significa, visto que esse funcionamento lhe é constitutivo, sendo não apenas uma partícula esparsa de significação no tempo, mas objeto simbólico próprio dessa rede de memória na língua.
Pensamos, dessa maneira, a memória a partir do campo da linguagem, na perspectiva do discurso, no qual se considera que a memória histórica está, enquanto gesto de leitura, condicionada aos enunciados, aos discursos, constituindo-os, e determinando suas formações discursivas.
Esse entendimento nos leva à seguinte proposição: a memória pelas vias do simbólico funciona determinada por certas formações discursivas, em escalas coletivas, bem como, percorre também esferas tidas como privadas e/ou pessoais, que, neste caso, colocam em funcionamento alguns processos de silenciamento. Nessa direção, Payer (2009, p.38), considera que é necessário identificar:
 
[...] o entrecruzamento destas duas esferas, coletiva e pessoal, [que] leva a desvendar o funcionamento de um meticuloso trabalho da memória, na articulação, às vezes subterrânea e involuntária, do mnemônico com a palavra. A atenção a esta articulação resulta na impossibilidade de desconsiderarmos o sensível na produção do sujeito de linguagem, das práticas humanas e do próprio conhecimento.
 
Pensar o trabalho da memória discursiva, enquanto aquilo que “fala antes, em outro lugar, independentemente” (PÊCHEUX, 1988) é compreender, desde os primórdios da teoria do discurso, “[...] o modo de existência histórica dos enunciados no seio das práticas sociais” (COURTINE, 1981 apud, PAYER, 2009), e considerar que há sempre um já-lá responsável por sustentar a possibilidade mesma de todo dizer. Nesse