Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

                                                     (TAVARES J. ano I, 1879)[1]
 
 
Blanchot (1987) discute, no campo da teoria literária, que aí onde está o escritor só fala o ser.Assim, a posição-escritor torna-se constitutiva de um discurso que, a priori, ninguém fala nele, pois o que fala nele é uma decorrência do fato de que, de uma maneira ou de outra, já não é ele mesmo [o articulista], já não é ninguém.É, pois, a partir dessa compreensão que propomos a leitura dessa materialidade simbólica, a língua, numa relação com a memória do discurso jornalístico e literário.
Consideramos a alteridade, a partir de Leite (2007, p.11), enquanto um lugar de representação do inconsciente, e um inconsciente “[...] estruturado como linguagem, que se desdobra nos efeitos de linguagem”.
O ritual discursivo de escritura não é consciente para o articulista, uma vez que nesse gesto ele é já capturado pelos efeitos do inconsciente. O sujeito encontra-se submetido à linguagem e principalmente habitado nela e por ela, constituindo-se enquanto discurso. A partir disto, compreendemos que Tavares – o articulista – ao escrever sobre o poeta Gonçalves Dias, o faz a partir de um discurso já-dado, o discurso literário, possível na língua nacional brasileira em sua cadeia significante. Trata-se de um gesto de escritura clivado pelo inconsciente e habitado por uma natureza e alma poética.
O gesto discursivo de escritura, que recortamos de Tavares, significa-se nessa alteridade da não coincidência do discurso consigo mesmo na medida em que se


[1]O Brasil gigantesco berço de talentos portentosos: De Gonçalves Dias, o mavioso poeta, cuja alma elevou-se as supremas regiões à vista dos verdejantes palmeiraes de sua terra natal, à hora em que o sabiá, ao descambar do sol, desprende melancolicamente sua última endeixa; [...]”.(TAVARES J. ano I, 1879).