Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

escapa ao simbólico e permanece na esfera do indizível, a isso denominamos real da língua.
Nessa direção, Mariani (2008, p.26) formula:
 
Há real: há pontos de impossível determinando o que não pode não ser dito de outra maneira. É porque há real, algo que escapa ao simbólico, que nos deparamos com a falha na cadeia significante e com seus efeitos, ou seja, os deslizamentos de sentidos, os equívocos, os atos falhos.
 
Dessa maneira, os dizeres não são óbvios, já que é no real das não coincidências que há o afetamento do Outro, lugar em que se produzem sentidos. É por isso que as palavras que enunciamos não falam por si e, desse modo, a opacidade da relação língua/sujeito/história nos conduz a pensar os lapsos, os atos falhos e os equívocos como sendo constitutivos da linguagem, marcados pela incessante voz do Outro, fazendo com que nossas palavras não sejam intactas, mas sim habitadas por outras vozes.
Para Orlandi (2007, p.31), o movimento da memória, enquanto um “[...] saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré construído, o já dito que está na base do dizível sustentando cada tomada da palavra”, circunscreve sentidos no modo mesmo como esses sentidos estão já constituídos na língua. Portanto, a dobra de mundos, sujeitos e sentidos produzindo ficção é um funcionamento próprio da língua, pois o sujeito não tem sempre um lócus de filiação, ele é determinado sócio historicamente e afetado pelo inconsciente. Não há dizeres preenchidos e pré determinados, afinal “[...]nenhuma língua pode ser pensada completamente, se aí não se integra a possibilidade da poesia” (PÊCHEUX, 1990, p. 51), da ficção e da representação pela dobra.
O poético, desse modo, é pensando como propriedade da língua, não sendo restrito a um espaço de efeitos, a ser usado em momentos ou ocasiões específicas, ao contrário, pode ser concebido “[...] como uma propriedade da ordem da língua [...] que incide no corpo da língua, em sua materialidade significante” (PÊCHEUX 2004, apud, MARIANI, s/d, p. 1).
O efeito de deslizamento no fio discursivo coloca em jogo o modo como a língua imita o real, à deriva de um funcionamento fictício, poético. Acerca disso Mariani (2007, p.213- 228) considera que “[...] do ponto de vista discursivo, o poético