Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

significar, justamente pela plasticidade própria à língua que abre a possibilidade de o significante, num gesto reflexivo, projetar-se sobre si mesmo, apontando para uma não coincidência dos sentidos, dos sujeitos com o inconsciente e o interdiscurso.
Conhecendo as dobras da língua(gem), trabalhar efetivamente a memória da/na língua no sujeito, nos levou a compreender questões de instâncias discursivas não somente ligadas à língua, mas, por conseguinte, também sobre a língua, inclusive aquilo que lhe parece subterrâneo. Nessa direção, consideramos que “[...] o sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc., não existe ‘em si mesmo’, mas, ao contrário, pelo [...] processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas (PÊCHEUX, 1998, p.190. Grifo nosso.) e ainda, que há uma parte desses sentidos inacessíveis ao sujeito. Assim, consideramos que é pela relação da memória discursiva de uma língua [que por sua vez é constituída pela ideologia] com sua exterioridade que as chances de retomada de sentidos pré-existentes se tornam possível no espaço de constituição dos jornais do XIX, sobretudo, a partir da relação necessária da linguagem com o seu equívoco.
Nessa direção, faz-se necessário afirmar que quando alinhavamos um percurso de leitura sobre o objeto em análise, algo do que propusemos inicialmente, não ganhou espaço na discussão, isso porque “[...] são as noções e conceitos que significam na relação com os materiais tomados para análise, tomando distintas configurações em cada análise”(LAGAZZI, 2009 p.68). Assim sendo, questões como o ritual com falhas, pensado na cadeia significante e seus efeitos de sentidos na linguagem, deverão constituir espaço para possíveis [re]tomadas de leituras, haja vista considerarmos que o ritual discursivo se estilhaça no lapso, e este não necessariamente coincide com a ideologia, afinal a ideologia não deve ser pensada necessariamente sem referência ao registro inconsciente, o que nos possibilita, em um segundo momento de leitura, questionar o modo como se dá a circularidade do projeto literário, em Mato Grosso, no espaço do jornal, e, assim, aprioristicamente, apontar essa inscrição literária no jornal enquanto uma falha discursiva, resultante de uma subjetivação que reflete em uma construção identitária, constituída por uma heterogeneidade discursiva, imbricada com a história, e atravessada pela memória da língua.
Dessa maneira, é ela possibilidade intrínseca à língua – a possibilidade da reflexividade – que sustentamos cada [re]tomada de leitura em análise, [re]tomadas enquanto propostas cuja a finalidade é a de tocar o interior da linguagem, como um modo de enunciação dobrado entre os co-enunciadores, e, trabalhar o espaço de