Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

inscreve no já-dito de uma formulação literária. Essa reflexividade da língua condensa-se nas formulações de Tavares como se fosse o próprio Gonçalves Dias, formulando nessa língua do século dezenove, em Mato Grosso.
Gadet & Pêcheux (2004) apontam para o fato de que a materialidade simbólica da língua se dá enquanto espaço discursivo diverso para formulações poéticas como em “[...] o poeta seria apenas aquele que consegue levar essa propriedade da linguagem a seus últimos limites”.
Na homenagem à Alencar, publicada no jornal A Opinião (1878- ano I), temos:
 
                        (ESCRAGNOLLE TAUNAY, 1878 - ano I)[2]
 
 
Nessas formulações, Taunay inscreve-se, enquanto articulista, na posição literária de Alencar em relação à língua, “não de si” que se impõe como um dizer “disto do qual se fala”. Trata-se de formulações poéticas de um mesmo lugar, mesma época, porém, em outras condições de produção, outro interlocutor. O gesto discursivo de escritura de Taunay, embora seja no jornal, inscreve-se no saber poético já-dado em Alencar na/sobre a língua, constituindo sentidos no mundo pelo saber suposto sobre essa mesma língua.
Do mesmo modo que Tavares, o gesto de escritura de Taunay repete/reformula sentidos na/pela língua nacional brasileira, nessas partículas de elaboração da língua “não de si”, elevadas aos seus limites simbólicos, pela escolha do léxico, pelo ritual dessa sintaxe da escrita, pelo excesso das predicações, etc., em relação à proposição de que, segundo Orlandi (2005, p.32), os sentidos não estabelecem espaços fixos ou particulares em uma dada formulação possível da língua:


[2] Vinde, casta e gentil Cecy, melancólica Izabel, graciosa Guida! Vinde, meiga e dôce Iracema, caprichosa Diva, e vós altiva Senhora! Vinde todas – formosas filhas do genio de Alencar – entretecer uma capella de brancas saudades para aquelle que vos deu vida ideal, cheia de luz e de immarcessiveis encantos!