Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

para esta pesquisa, fecho este ainda que provisório. Antes, porém se faz necessário dizer que um cisionismo é constitutivo da cientificidade da Análise de Discurso; prática de leitura grávida de uma teoria. De acordo com Orlandi (2009, p. 13) esse cisionismo se dará por dois motivos, o primeiro e o segundo, respectivamente:
 
[...,] porque numa realidade social e histórica como a nossa, em que se é obrigado a reconhecer que sempre se ocupam determinadas posições (e não outras) no conflito constitutivo das relações sociais, não se pode fazê-lo neutramente, ou seja, sob a ilusão de que não se está tomando decisão nenhuma.
[...] porque as críticas que se voltam contra a AD constituem formas contínuas de anexação e de revisão de sua capacidade explicativa. Também quanto à AD, a “Razão Ocidental” [...] em concluir um pacto de coexistência pacífica [...] senão sob a condição de anexá-la às suas próprias ciências ou seus próprios mitos [...]. (ALTHUSSER, 1984, apud ORLANDI, 2009, p.13)
 
 
Nesse sentido, a Análise de Discurso tornou-se alvo de tentativas de anexação que tendem a silenciar a sua dimensão ideológica e a trabalhar o discurso enquanto uma espécie de adendo em relação ao linguístico, por exemplo. Assim, o trabalho teórico da Análise de Discurso constitui-se, pela sua completa desterritorialização, em face de três fundamentos: a ideologia, a crítica e a teoria. Nesse espaço triplo de fundamentos que pensamos para além, ou através da ficção de uma língua o próprio investimento do funcionamento de um imaginário de língua literária, possível por uma memória dada a existir em poesia, metáfora. Assim talvez, a palavra ficção definirá o modo como o inconsciente se diz na poesia. Isso, pois, é a própria ficção que, quando levada pelas palavras aos seus últimos limites simbólicos, conduzirá o imaginário imóvel a um processo simbólico. Ou seja, no imaginário temos um sujeito relacionado com o “pequeno” outro, enquanto que pela ficção o sujeito está em busca do “grande” Outro, do campo simbólico. O imaginário é a inconsciência do inconsciente às vezes buscada pelo sujeito para encobrir sua falta constitutiva e o real nesse espaço do próprio inconsciente é a possibilidade de infinitização da alteridade, aquilo que volta sempre no (ou não no) mesmo lugar.
Então, conforme proposto em análise, a experiência da alteridade significa-se reflexivamente no vazio do eco de nossas vozes e na opacidade de nossas palavras.
Nessa perspectiva, vemos nos jornais da segunda metade do século XIX o funcionamento discursivo do jogo simbólico, em que o discurso da língua se autorrepresenta. O simbólico joga diferentemente com sua materialidade para então se