Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

[...] o signo constitui-se metalíngua à medida que aponta para o significado de algo – o mundo fictício, ao mesmo tempo em que o significa no modo como se dá – como a língua o significa. Ou seja, o signo é reiterativo de sentidos, porque significa algo e o significa de certo modo.
 
Dessa maneira, é na reiteração dos sentidos, na hiância de marcar um sujeito nacional, cuja possibilidade de deslizamentos se faz presente, que a poesia está no próprio da língua enquanto lugar de todo processo de significação. Assim, as versões de um nacionalismo e identidade linguística são, de acordo com Mariani (2008, p.26), “[...] projeções que, tomando a língua como objeto simbólico da nação, fazem consistir a língua nacional de acordo com predicações que a qualificam ‘sendo isso ou aquilo’ ou que a caracterizam como tendo isso ou aquilo”.
Esse lugar não-de-si de dizer a poesia na língua é marcado como constitutivo do discurso do Outro, sendo possível especificar fronteiras entre si e o Outro em suas diferentes instâncias de condições de produção: diferentes interlocutores, épocas, materialidades de divulgação, etc. O discurso da/sobre a língua mantém-se o mesmo e ressignifica-se no movimento da história, produzindo em si mesmo, por diferença, sua própria imagem, conforme Authier-Revuz (1998).
A especularidade da relação língua/sujeito/história, que a princípio estabelece uma unidade imaginária política/linguística, no cenário do XIX, desliza-se por palavras porosas de um discurso constitutivo, pelas quais restituem, no coração dos sentidos sobre a língua, uma carga nutriente e destituinte (AUTHIER-REVUZ, 1998).
O excesso das predicações, nesse material que recortamos, produz o efeito de condensação de sentidos possíveis pela formulação da poesia na língua:
 
 
[...] Brasil gigantesco, berço de talentosos portentosos, o mavioso poeta, supremas regiões, verdejantes palmeiras, terra natal, última endeixa [...] (TAVARES J. ano I, 1879). Casta e gentil Cecy, melancólica Izabel, graciosa Guida, meiga e doce Iracema, caprichosa Diva, altiva Senhora, formosas filhas, gênio de Alencar, brancas saudades, vida ideal, cheia de luz, imarcescíveis encantos (ESCRAGNOLLE TAUNAY, 1878 - ano I).
 
 
As predicações, ao serem atribuídas a essa língua, produzem um movimento de completude ou pelo menos produzem um efeito de completude, na tentativa de representar e fixar uma identidade. Todavia, a incompletude é uma das condições da linguagem, visto que nem tudo pode ser dito, sempre há algo por ainda dizer, algo que