Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

Todavia, quando Authier-Revuz (1998) afirma que o interdiscurso corresponde ao ‘isso fala’, o sentido já-lá da heterogeneidade constitutiva, e ao como-diz-outro da heterogeneidade mostrada, o que observamos é que o que está sendo colocado em pauta é o visível, o mostrado, que, para a teoria da Análise do Discurso, corresponde ao dizível, ou seja, a relação do sujeito com as formações discursivas (FDs), com o interdiscurso.
Em Orlandi (2009) a noção de heterogeneidade, que aparece em Authier-Revuz como sendo uma mistura de (a+b), irrecuperável e distinto. Desta forma, a ilusão de o sujeito estar na origem do dizer permite a recuperação da homogeneidade, convivendo assim, ao mesmo tempo, o visível e a unidade. Na Análise de Discurso, no entanto, é possível somente a combinação ab,onde não há possibilidade de recuperação da origem, visto que só são efeitos que estão lá, como já dissemos anteriormente. 
O processo de indistinção dos dizeres sobre/de José de Alencar, no século XIX, determina o não limite nessa relação com a alteridade, visto que, o jogo com o outro, neste espaço jornalístico, se desfaz pelo uso ou menção de um interlocutor, dessa forma, o sujeito/ articulista que enuncia representa o dizer como sendo seu, porém, ocupa, ao mesmo tempo, a posição, em sua própria enunciação, de observador exterior à língua.
Nesses processos de indistinções do dizer pressupõem-se sujeitos e sentidos, embora ambos permaneçam incompletos. A noção de incompletude, discutida por Orlandi (1987), é a condição primária para que haja a existência da linguagem, do sujeito e do sentido, é possibilidade de os sentidos se deslizarem, tornarem-se outros. Trata-se do espaço “[...] onde o outro insurge como aquilo de que também poderia dizer-se, de que desejaria esconder, mas que permanece latente, como constante opção” (MORELLO, 1995, p.63).
A relação de alteridade configura-se como algo longe de ser unívoco e claro, ao contrário, é desorganizado e confuso. Assim, o modo de dizer do articulista/poeta está acoplado a um dizer outro, indistinto, que se dá na relação com a incompletude. O estranhamento com o “grande” Outro, da ordem do inconsciente, e o outro “pequenino”, da enunciação, simboliza a eterna reivindicação do sujeito com o que lhe é próprio e original. A impressão mais concernente, a partir desse conjunto de observações, é a de que sujeito origem (o da psicologia) precisa marcar o aprisionamento das palavras, dos sentidos como lhes sendo particular.
Outro modo de resposta é o de que, instalado nos modos de evidência do sujeito, os sentidos produzem efeitos de retorno, de desdobramento, estendendo-se em