Revista Rua


O "progresso" e a significação da sociedade em alguns dos primeiros dicionários monolíngües brasileiros
The "progress" and the significance of society in some of the first monolingual Brazilians dictionaries

Rosimar Regina de Oliveira

O Pequeno Dicionário – nona, décima e décima primeira edições (1951 – 1963 - 1968[13])
 
Na nona edição, a alteração morfológica realizada em progressista, na edição anterior, se mantém, mas reformulada: adjetivo de 2 gêneros e substantivo de 2 gêneros. Ainda no verbete de entrada progressista é acrescentado um enunciado definidor relacionado à política brasileira, em que progressista é, no Brasil, “partidário da Regência do Padre Feijó”, pois está com a marcação “Bras.” que significa Brasil. Esse enunciado introduz um memorável político e nos diz que o sentido de ser progressista no Brasil está atrelado aos sentidos produzidos ainda durante o período regencial, e relacionado aos princípios do positivismo[14] desenvolvido por Augusto Comte e seguido por Padre Feijó, regente entre 1835 e 1837. O memorável da política brasileira do século XIX, aqui trazido, inscreve um passado para o caráter progressista na história política brasileira. Esse memorável ao individualizar a sociedade, produz uma relação polissêmica para progressista que apresenta dois sentidos: um que corresponde à sociedade em geral e é produzido nas acepções “que, ou pessoa que é favorável ao progresso”, “partidário do progresso”; e outro sentido relacionado especificamente a um período preciso da sociedade brasileira, produzido na definição “partidário da Regência do Padre Feijó”, acompanhada da marcação “Bras”.
Nesta mesma edição, a palavra progressivo recebe uma marcação de domínio de especialidade ligada à medicina: “(Med.) (V. Paralisia)”. Este verbete passa a produzir um sentido negativo por ser marcado com a alusão a uma doença[15], a paralisia. Esta doença envolve a perda dos movimentos, a possibilidade de evolução em direção ao “não movimento”, à “paralisação” – paralisar gradativamente, progressivamente. Essa marcação reforça o sentido das acepções “que progride”; “que segue uma progressão”; “que se vai realizando gradualmente”,que são apresentadas desde a primeira edição e produzem um sentido de movimento favorável. Ao contrário do sentido evidenciado nas acepções, a marcação “(Med.) (V. Paralisia)” aponta uma direção negativa, desfavorável.


[13] A décima edição (1963) e a décima primeira (1968) não apresentam nenhuma alteração.
[14] Em relação ao positivismo no Brasil, Orlandi (1997) comenta que o enunciado “Ordem e Progresso” utilizado como dístico na Bandeira Nacional “resume, de certo modo, a simbologia positivista no Brasil. [...] Esse enunciado se inscreve no discurso da República, tendo sido formulado na época de sua implantação no Brasil, fazendo assim parte das relações de força e de sentidos que aqui então se delineavam” (p.10). A autora traz alguns dos deveres positivos e negativos prescritos pela Sociedade Positivista do Rio de Janeiro: “1. Não possuir escravos; 2. Não aceitar cargos políticos (durante a fase de transição); 3. Não aceitar funções acadêmicas; 4. Não participar do jornalismo; 5. Assinar o nome em suas publicações e assumir sua responsabilidade moral e legal.” (p.14).
[15] Esse sentido de doença aparece nos dicionários brasileiros somente em 1951, mas ele já estava disponível na língua portuguesa, pois o “Diccionário da Língua Portugueza”, de Antonio de Moraes Silva na edição de 1813, já apresentava esse sentido que vinha como enunciado definidor de progressivo, da seguinte forma: “doença progressiva; que não mata do primeiro ataque ou golpe”.