Revista Rua


O "progresso" e a significação da sociedade em alguns dos primeiros dicionários monolíngües brasileiros
The "progress" and the significance of society in some of the first monolingual Brazilians dictionaries

Rosimar Regina de Oliveira

Trabalhando sobre a temporalidade do acontecimento enunciativo do dicionário, observamos como a palavra progresso e suas cognatas são definidas nos dicionários tomados como textos e compostos por “unidades textuais menores: o prefácio, a apresentação, as tabelas explicativas, etc. Dentre essas unidades, estão os verbetes” (ELIAS DE OLIVEIRA, 2006, p. 37). Os verbetes, que são compostos por palavra-entrada e definição, são o objeto de análise deste artigo. A definição é tudo o que predica a palavra-entrada, tudo o que se diz sobre ela. Conforme Elias de Oliveira (idem, p. 37) a definição é constituída por “predicados de tipos diferentes (acepções, exemplos, etimologia, regência/colocação, representação fonética, etc.)”. Para nossas análises elegemos especialmente as definições e os exemplos.
Tal como Elias de Oliveira (2012, p. 1) “consideramos o saber produzido sobre uma palavra no dicionário como parte da história da palavra, à medida que integra sua história de enunciações”. Desse modo, buscamos compreender na enunciação do dicionário a designação da palavra progresso e suas cognatas tendo em vista as relações parafrásticas e polissêmicas existentes entre as palavras-entrada e as definições presentes nos verbetes dos diferentes dicionários, no conjunto de edições analisadas. Conforme Guimarães (2002; 2004a; 2006), a designação é a significação de um nome remetida ao real e enquanto uma relação com outros nomes tomada na história, sendo, portanto, linguística e histórica. Compreender a designação é dizer as relações estabelecidas entre as palavras em um acontecimento de linguagem.
Para estabelecer a designação das palavras propostas, analisamos como as palavras-entrada são determinadas pelas predicações, nas definições lexicográficas, no movimento entre a paráfrase e a polissemia[9]. Sendo a polissemia tomada a partir da concepção da Análise do Discurso como um processo fundamental da linguagem de deslocamento dos sentidos, já que se assume que o sentido sempre pode vir a ser outro, pois o funcionamento da língua ocorre no equívoco.Conforme Orlandi (2000, p. 36), a linguagem funciona na tensão entre a paráfrase e a polissemia, nesse sentido, “os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória. [...] Ao passo que, na polissemia, o que temos é deslocamento, ruptura de processos de significação. Ela joga com o equívoco”.


[9] Tal como também, a partir da perspectiva da Semântica do Acontecimento, analisa as palavras “cidadania”, “cidadão” e outras relacionadas, Elias de Oliveira (2004 e 2006).